quinta-feira, 24 de abril de 2008

Entrevista com Bové (França)


A direção do MST envia entrevista de José Bové à revista La Vie, líder da agricultura familiar da França. Reproduzo algumas passagens:
"Calmo e cansado. Esse é um José Bové fora do comum que nós encontramos em sua nova casa – toda de madeira e aquecida com energias renováveis – em Montredon, um lugarejo perdido no planalto de Larzac. Depois de uma greve de fome de dez dias que o fez perder seis quilos e voltar a ganhar os favores de uma opinião pública que não lhe foi muito favorável nesses últimos tempos, a julgar pelo fiasco político (1,32% dos votos na eleição presidencial), pela destruição contestada de campos de órgãos geneticamente modificados (OGMs) e pela superexposição midiática. Aos 54 anos, o ex-líder da Confederação de Agricultores aceitou ser entrevistado pela revista La Vie e falar, entre outras coisas, sobre os fundamentos de sua vida militante: a não-violência."
1) "Um dos meus antigos cúmplices, Jean-Baptiste Libouban, verdadeiro pai dos destruidores voluntários de plantações transgênicas, (...) tinha o costume de dizer que a não-violência é ao mesmo tempo feminina (a mediação) e masculina (a luta) e que se necessita dos dois. Se as ações de destruição de plantações – a primeira aconteceu em junho de 1997 – não tivessem acontecido, hoje não estaríamos debatendo os OGMs na França."
2) "Mas, às vezes, as ações de destruição das plantações foram vistas como atos de violência. (...) Podemos efetivamente dizer que a destruição é um ataque à propriedade privada. Mas nosso argumento sempre foi o de dizer: “Em nome da propriedade privada tu tens o direito de poluir as plantações de teu vizinho?”, que é o caso de uma plantação de milho OGM vizinha de uma plantação de milho convencional ou de uma cultura biológica."
3) "[Não se deve ultrapassar] Primeiro, a integridade da pessoa em questão. Segundo, que haja sempre uma porta de negociação possível. Para não se meter numa situação em que haverá um perdedor e um vencedor absoluto. Podes ser muito radical em relação a um objetivo preciso, mas sem colocar o outro num impasse. Eu vejo, por outro lado, que a sociedade francesa tem cada vez mais uma relação paradoxal com o confronto social. Por um lado, os grandes meios de comunicação comparam uma greve dos transportes a “uma tomada de reféns”.
4) [Sobre uma boa lei de transgênicos] "Seria uma lei não ao estilo de Pôncio Pilatos que coloca frente a frente e no mesmo nível aqueles que querem se preservar dos OGMs e aqueles que querem o seu plantio. Uma boa lei, ao contrário, deve proteger o espaço público – o consumo, a agricultura biológica, os territórios – dos OGMs. Esses são os compromissos que foram tomados em Grenelle sobre o meio ambiente e que nós apoiamos."

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