sábado, 5 de julho de 2008

Artigo de Raúl Zibechi sobre crise dos movimentos sociais


O artigo de Raúl Zibechi publicado na La Jornada, ontem, cujo título é "Hacia el fin de la década progresista", é ousado e coloca o dedo numa ferida não reconhecida por lideranças sociais. A tese central é que os governos progressistas da América Latina (cita Lula, Tabaré Vázquez, Néstor Kirchner, Evo Morales, Hugo Chávez e Rafael Correa) foram seguidos pela queda significativa do protagonismo político dos movimentos sociais da região. Sugre que os Estados nacionais da região (ou seriam os governos?) se revelaram impotentes. Cita, como exemplo, o governo uruguaio, impotente frente ao avanço das plantações de soja, sem que surja qualquer política reguladora, o que transforma aquele país num grande importador de alimentos. Cita, ainda, a contradição argentina, onde se retém as exportações de soja, mas se limita a taxação sobre multinacionais da área de mineração em 5%. A partir daí, Zibechi entra na velha teoria conspiratória, encontrando o dedo do governo Bush nos movimentos separatistas bolivianos, venezuelanos e equatorianos. Não que não exista intenção ou articulações políticas neste sentido, mas tal teoria desconsidera os conflitos internos de cada país, como um pai que não acredita que seu filho possa pensar e ter autonomia, sendo sempre induzido por "amigos perigosos".
Gostaria dar um pitaco nesta análise. É certo que os governos latino-americanos se vêem superiores à sociedade civil e movimentos sociais que, muitas vezes, eram sua base social e política de origem. E é fato que os movimentos sociais não conseguem articular suas ações e muito menos elaborar uma agenda política que ultrapasse os limites de um mosaico, um arranjo meio roto. Mas o problema é mais grave: qual a relação efetiva dos movimentos sociais e organizações populares com o Estado? Como se definem enquanto atores públicos? Quais responsabilidades políticas assumem, de fato? Essas parecem ser questões de fundo, relacionadas ao ideário político.

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