segunda-feira, 27 de outubro de 2008

As eleições de 2008 e a democracia participativa (3)

Desenvolvo tal análise abaixo partindo do debate percebido em cada uma das capitais mais importantes do país.
Em Porto Alegre, “berço da democracia participativa” assistimos ao seu enfraquecimento mais contundente. A vitória do PMDB/PSDB de Fogaça reforça dois movimentos: de um lado, a tática conduzida pelos setores conservadores em manter o OP de forma “rebaixada” - reduzindo poder de decisão da população e, portanto, seu protagonismo -, mas criando “falsos sinais” para setores populares e segmentos médios da população. De outro, a fragmentação da esquerda, mesmo no segundo turno, apontou para a falta de consenso em torno deste tema no campo progressista.
Em Curitiba, a vitória do modelo de planejamento tecnocrático de cidade segue firme e forte com a vitória do PSDB.
No Rio de Janeiro, dois candidatos de trajetória política errática não apresentaram formulações sobre o assunto, enquanto a esquerda, mais uma vez fragmentada, não foi capaz de organizar projeto algum para a sociedade. No mais, apenas uma idéia difusa de transparência na administração foi apresentada pelo candidato derrotado Fernando Gabeira. O eleito, Eduardo Paes, do PMDB/PSDB, é uma nulidade completa no tema.
Em Belo Horizonte, o candidato vencedor Márcio Lacerda, patrocinado pelo PT e PSDB, deve priorizar o chamado “choque de gestão”, compromisso este que não tem como se misturar com “o choque de democracia”, a não ser mineiramente. De qualquer modo, seguirá o desafio de manter na agenda local o orçamento participativo, apesar da já visível redução em curso do seu poder de decisão popular e sua afinidade maior com a tecnocracia do planejamento.
Em São Paulo, apesar do PT organizar, inicialmente, um grupo eleitoral de trabalho com vistas a formular ações no âmbito da democracia participativa, suas sugestões acabaram descartadas pelos “sistematizadores” do programa de governo e pela coordenação da campanha. O tema não foi motivo de agenda da candidata, nem tampouco de proposta pública de governo. De resto, a vitória do DEM/PSDB reflete o predomínio de uma aliança que vem eliminando ou sufocando os poucos canais de participação na cidade.
Em Recife, o Secretário de Participação Popular, João da Costa, foi eleito pelo PT ainda no primeiro turno, sem a presença de Lula no palanque eleitoral. Apesar do tema da democracia participativa ganhar espaço no debate político-eleitoral e projetar Recife inclusive nacionalmente, a imprensa do centro-sul insistiu na tese de que o Prefeito João Paulo estaria elegendo um “poste” e que as cartilhas do OP distribuídas no início do ano poderiam cassar o mandato do prefeito eleito. Na verdade, o Prefeito João Paulo, ao indicar João da Costa para sua sucessão, colocou o tema no centro do debate, e colheu uma vitória impressionante. Para a população recifense, incorporada aos processos de participação popular, João da Costa já era muito conhecido e representava o centro de um projeto em curso que vem colhendo resultados positivos. Sem dúvida, as 10 mil cartilhas do OP impressas tiveram influência eleitoral muito menor do que a aparição de Kassab, para todas as TV´s, Rádios e Jornais, entregando um cheque para o Metrô de José Serra, às vésperas da eleição. O processo de participação popular em Recife, de forma estrutural, sem dúvida, foi fundamental para a vitória das forças de esquerda.
Em Fortaleza, apesar das previsões pessimistas, a Prefeita Luizianne Lins foi reeleita em primeiro turno, sem a presença em palanque do Presidente Lula e concorrendo contra todos os caciques estaduais – PSDB/DEM/PPS. Nesta cidade, tal como em Recife, o Orçamento Participativo tem papel importante no Governo, e a re-eleição em primeiro turno representou a aprovação da população a esta forma de governar.
Diante desta rápida análise das eleições nas principais capitais brasileiras, concluo que se queremos aprofundar a análise sobre a democracia participativa, o orçamento participativo e o seu papel no deslocamento do campo hegemônico para a esquerda, convém olharmos, cada vez mais, para o Nordeste.
Talvez, desta forma, as forças progressistas do Centro-Sul do Brasil descubram o “elo perdido”.

Nenhum comentário: