quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

DaMatta, Lula e os discursos


Roberto DaMatta acaba de publicar o artigo "O presidente não lê". Reproduzo o primeiro parágrafo e comento em seguida:
"Numa terra de cegos, quem tem um olho é rei. Num país de gente sedenta e carente de leitura, é desanimador e melancólico descobrir que o presidente da República, o sujeito mais importante e poderoso do sistema; a figura a quem devemos respeito e lealdade pelo cargo que ocupa; que representa não só um partido ou posição política e econômica, mas - como supremo magistrado da nação - todos nós; o homem numero 1 do país não lê. Mais: em entrevista ao jornalista Mário Sérgio Conti, para a revista "Piauí", ele declara que, quando tenta fazê-lo, tem azia. Ademais, descobrimos que ele fez como o pior presidente que os americanos jamais tiveram, George W. Bush, pois dele veio a cópia de uma estrutura palaciana montada para evitar a leitura. Para um sujeito como eu, que vive para os livros e de livros, e que morreria sem livros; para quem a leitura tem sido um meio de dar sentido à vida e de lidar com o amor, com a perda, com o sucesso, com a raiva, o trabalho e com a morte, saber dessa antipatia à leitura é - digo-o sinceramente e com o coração na mão - chocante, inacreditável, triste, devastador. "

Entendo o papel institucional do cargo do Presidente da República. Sua fala não pode ser pessoal, já que é investido desta função que sustenta a República. Mas acredito que DaMatta escreveu meias-verdades, já que é um analista arguto. Explico: é óbvio que Lula lê jornais e clipping diário dos mesmos. Neste caso, trata-se de uma provocação. DaMatta reduz a questão (embora pudesse dar luz à grande população brasileira, sobre os caminhos e descaminhos da prática política) da mesma maneira que a oposição (da época) fez com a famosa frase de FCH em que dizia para esquecerem tudo o que havia escrito (retomando a tese de Max Weber, sobre a diferença entre a ética da ciência e da política). Diria que se trata de uma motivação inconfessável de oposição, de tipo partidária. A mesma que fez alguns jornalistas criticarem a tal “marola” dita por Lula. É óbvio que Lula tem informações privilegiadas e pelas políticas que vem adotando, sabia desde o início que não se tratava de marola (fui secretário de governo nos anos 90 e sei como não se adota uma política do dia para a noite, o que revela que já estavam em elaboração). O que um Presidente deve falar? Que a crise destruirá a economia? Entre outubro e dezembro, período de compras? Diria para fazer poupança privada? E qual o impacto desta fala sobre os pequenos e médios empreendedores? Uma fala catastrófica, sem nenhuma responsabilidade política, que criaria de imediato um círculo vicioso no mercado nacional. Enfim, acho que o artigo de DaMatta é mais um ato falho que outra coisa.

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