quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sobre programa escola que protege


Hoje, o jornal Estado de Minas me entrevistou para comentar o programa federal Escola que Protege. Trata-se de um programa focado na formação técnica de professores para poderem saber se posicionar frente à casos percebidos de violência que afetem seus alunos. Em MG, o programa envolveu, além de professores, outras instâncias e públicos da rede de proteção à criança e adolescente. O programa é em parte bom porque dá atenção para um problema cada vez mais grave em nossa sociedade. Mas é absoultamente desfocado. Frente a tantos estudos, tenho a impressão de ser de péssimo gosto acreditar que o enfrentamento à violência que afetam alunos é caso para formação de professores. Explico:
1) O professor tem tripla jornada em escolas públicas, não tem dedicação exclusiva e está mergulhado, cada vez em maior número, na Síndrome de Burnout, que envolve depressão, baixa auto-estima e desânimo. Um programa de formação para aumentar sua atenção parte de qual realidade? Qual a intenção?
2) Para que o professor participe efetivamente da rede de proteção, esta rede deveria estar montada. Basta estudar o que o governo federal e o governo mineiro fazem para promover o Fundo da Infância e Adolescência e para ouvir o CEDCA-MG e CONANDA. Para não citar os casos de mortes de adolescentes em centros de internação, na imensidão de sentenças de internação sem sentido e outros absurdos;
3) Para o professor diagnosticar com segurança seria necessário uma equipe multidisciplinar no interior da escola. Violência é sempre multifacetado. O perfil de pessoas violentas tem, muitas vezes, relação com uma educação ambivalente. Como jogar sobre o professor esta responsabilidade de "porta de entrada" para um diagnóstico tão delicado? Já vivenciei casos de violência de alunas em escolas que acabaram por gerar ameaças (dessas alunas) a professoras que souberam de sua situação. O que o MEC e SEEMG pensam em relaçao a estes fatos reais? o que este programa atende em relação à esta realidade?
4) Finalmente, ao diagnosticar, o professor fará o que? Terá chance para propor soluções ou redesenhar programas que já surgem prontos em esferas superiores? Terá uma rede aberta para ouvi-lo?

Se não fosse sério, seria uma brincadeira típica de 1o de abril.

2 comentários:

Unknown disse...

Olá Rudá,
li, com quase um ano de atraso, seu comentário sobre o escola que protege. Venho coordenando esse projeto aqui na ufmg desde 2008 e fiquei muito interessada por suas ponderações que, infelizmente, não acho descabidas - apenas muito pessimistas e exacerbadas.
Gostaria de conversar mais com você sobre esse assunto para que, quem sabe, o trabalho feito com muita seriedade seja menos parecido com essa tal piada típica de 1º de abril, que você mencionou.

Meu mail, caso esteja disposta a suplantar a crítica e contribuir na prática: marala3@hotmail.com

Rudá Ricci disse...

Marisa,
Vou entrar em contato agora mesmo. Mas um ano depois desta nota, toda realidade parece confirmar minha análise.