domingo, 23 de agosto de 2009

Crítica ao conceito de rede social


O caderno Mais! de hoje publica instigante entrevista de Jesús Martín-Barbero (espanhol-colombiano, ícone dos estudos de comunicação). Ele sugere que o conceito de rede social é um equívoco. Diz:

"Falamos em rede social, mas o que significa o social aí? Apenas uma rede de muita gente. Nao necessariamente em sociedade."

"Falar de comunidade para falar da nação moderna é complicado, porque romperarm todos os laços da comunidade pré-moderna. (...) No conceito de comunidade há sepre a tentação de devolver-se a uma certa relação não mediada, presencial. Essa é um pouco a utopia da internet."

"A utopia da internet é que já não necessitamos ser representados, a democracia é de todos, somos todos iguais. Mentira. (...)Seguimos necessitando de mediações de representação das diferentes dimensões da vida"

"O sentido do que entendemos por sociedade mudou. Veja os vizionhos, que eram uma forma de sobrevivência da velha comunidade na sociedade moderna. Hoje, nos apartamentos, ninguém sabe nada do outro. Outra chave: o parentesco. A família extensa sumiu."

Este é um tema caro à sociologia. Toda comunidade carrega um elemento narcisista que dialoga com o fascismo, já que não aceita a diferença. Ela não agrega ou negocia diferenças.

Martín-Barbero destaca outra questão importante. Diz que passamos por um entorno comunicativo. Afirma que já não sabemos o que queremos o que é importante.
Esta linha de raciocínio explica a dificuldade crescente em estabelecermos uma agenda societária. Temas agendas grupais. Também por aí podemos refletir os motivos do trabalho acadêmico não gerar debates significativos. Vinte anos atrás, uma boa tese juntava toda uma comunidade acadêmica e era disseminada de mão-em-mão. Hoje nem sabemos o que se produz e muito menos o que é inovador (se é que isto ainda existe). Não existe frescor intelectual.
Lembro-me das salas cheias (lotadas) com aulas de Marilena Chauí (na USP dos anos 80) ou de Paulo Freire ou do filósofo Flávio di Giorgi (aos sábados). Lembro-me das filas na biblioteca da PUC com grupos de estudantes (os inúmeros grupos de estudos) aguardando sua vez para conseguir uma das salas fechadas. Estudávamos para aprofundar conceitos e pensar o Brasil. Estudávamos para conhecer tudo de literatura, psicologia, sociologia, filosofia, linguagem, história. Perdemos este espírito universalista, moderno.

2 comentários:

Alexandre Sobral R. Horta disse...

Na verdade o Brasil foi sendo perdido com o tempo. Infelizmente vivemos uma consequência partida...desta forma, não há tradição que se faça prevalecida!

Maria Elisa von Zuben Tassi disse...

Mas podemos encontrar as redes. Porque nada se atrai ao acaso. E acho que a mediação está falida na medida que a educação está contaminada, por nossa sociedade contaminada de valores materialistas. Mas também acho que existe o caminho paralelo, (ou perpendicular) e a internet tem poder de potencializar e até mediar as redes sociais. E as tradições..a elas, o mérito, a meu ver é das instituições (infelizmente também partida) familiares. Elas são a preciosa e primeira rede social.
E, também sinto falta de verdadeiros mestres em minha jornada acadêmica! Conheci seu blog apartir de texto recebido no NovaterBrasil, o Mundo Rural a espera. Muito bom! Abraços