segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Frost/Nixon


Acabo de assistir Frost/Nixon, filme de 2008 baseado na peça homônima de Peter Morgan. Trata das entrevistas televisadas em 1977 do ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon (que havia renunciado três anos antes) ao jornalista britânico David Frost. Recebeu 5 indicações ao Oscar 2009: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Frank Langella, no papel de Nixon), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Montagem.
Nixon é uma figura lendária da política moderna. No livro de Sennett (O Declínio do Homem Público), há uma longa passagem sobre Nixon para ilustrar como um líder carismático se projeto, nos dias atuais, a partir do escancaramento da vida cotidiana, prosaica, procurando se identificar com o eleitor, que desconfia de tudo o que é público. Nixon não utilizou deste expediente, ao menos esta é a tese subliminar do filme, apenas como astúcia política, mas porque era assim: sua vida pública era uma resposta ao seu fracasso na vida privada, às suas frustrações.
Quem conhece de perto a vida política sabe que este cruzamento é inevitável e um lugar comum. Por qual razão Lula teria chorado ao ser diplomado Presidente e dito que era seu primeiro diploma (quando já havia sido diplomado pelo SENAI)? Por qual motivo FHC procura desesperadamente não ser esquecido? O que faz Sarney desejar ardentemente retornar à Presidência do Senado?
Por estes motivos que os cálculos matemáticos de uma vertente da ciência política norte-americana não me convencem. São jogos passageiros. Procuram fazer o que criticam no marxismo: conformar a realidade numa teoria abstrata, uma espécie de escatologia teórica.
O filme é realmente brilhante.

2 comentários:

Alexandre Sobral R. Horta disse...

numa teoria abstrata...a política atual brasileira, seria vista por milhões de telespectadores - Bastaria achar um personagem símbolo nacional e retratá-lo!

Rudá Ricci disse...

Mas o personagem símbolo já existe: Lula. Eu estava receoso que o adoecimento de Dilma Rousseff estimulasse o uso emocional do perfil "guerreiro" da candidata. Mas o bom senso vingou. Fico, contudo, preocupado com a disputa de 2010 em virtude da defesa do Bolsa Família. Explico: será quase impossível aparecer um candidato que se oponha à Bolsa Família. Seria um suicídio político. Mas o possível é provável: uma disputa pela imagem do candidato mais populista ou assistencialista. Minha preocupação é aparecer personagens "mais realistas que o rei". Daí podemos vivenciar a emergência do neopopulismo brasileiro. Esta é minha preocupação.