domingo, 22 de novembro de 2009

Declaração do Grupo Latino-americano de Especialistas em Alfabetização e Cultura Escrita


22 de outubro de 2009

Os abaixo assinados, membros do Grupo Latino-Americano de Especialistas em Alfabetização e Cultura Escrita (GLEACE), desejamos expressar que:


1. Valorizamos os renovados esforços que vêm sendo feitos na América Latina e no Caribe no campo da educação de adultos.

2. Consideramos especialmente propícios o cenário e o momento criados pela VI Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA VI, Belém, Brasil, 1 a 4 de dezembro de 2009), que será realizada pela primeira vez no hemisfério sul e nesta região em particular.

3. Sentimos-nos convocados pelo apelo a avançar "da alfabetização à aprendizagem ao longo da vida" proposto na CONFINTEA V (Hamburgo, 1997) e reiterado para o caso desta região na conferência regional preparatória da CONFINTEA VI, realizada no México em setembro de 2008.

4. Ao mesmo tempo, e neste marco, vemos com preocupação:

(a) A ênfase predominante que tem sido dada à alfabetização, a ponto de novamente reduzir-se `educação de adultos´ a `alfabetização´. Além disso, persistem as dicotomias tradicionais entre `analfabetos´ e `alfabetizados´, e entre `analfabetos puros´ e `analfabetos funcionais´, longamente questionadas por abundantes pesquisas, bem como pelo próprio desenvolvimento e complexidade da cultura escrita no mundo atual.

(b) Ações de alfabetização que se instauram no vazio, tanto no nível nacional como regional, desconhecendo a rica e longa história da alfabetização de adultos pela qual se conhecem e se destacam a América Latina e o Caribe no âmbito mundial.

(c) A persistência de uma concepção simplista e facilista da alfabetização, vista como um processo que pode ser realizado em pouco tempo, em condições precárias, com educadores sem ou com mínima capacitação, com métodos únicos, escassos materiais de leitura e escrita, pouco aproveitamento das modernas tecnologias; e sem levar em conta a diversidade lingüística e cultural dos educandos. Precisamente por serem as pessoas analfabetas, ou com baixa escolaridade, de setores pobres e às quais tem sido negado há muitos anos o direito à educação, é que elas merecem uma oferta educativa contemporânea e de melhor qualidade.

(d) A ausência de avaliação das aprendizagens, freqüentemente dando-se por alfabetizadas as pessoas inscritas ou as que se declaram como tal, sem verificar o que aprenderam realmente, e sem dar condições para que possam utilizar o que foi aprendido e continuar aprendendo. Este modo de proceder não só ignora a centralidade que deve ser atribuída à aprendizagem em todo processo educativo, mas também a própria experiência de avaliações rigorosas de campanhas e programas massivos de alfabetização realizados nesta mesma região, no passado e na atualidade, com o que, em lugar de avançar, em muitos casos se retrocede.

(e) O uso político de cifras e taxas de alfabetização, inclusive a declaração de territórios livres de analfabetismo´ ou `países alfabetizados´ com base em pura contagem estatística. Em vez de enfrentar a problemática com a integralidade que ela merece, cria-se a ilusão de se conseguiu resolvê-la em tempo recorde. Isso contribui, por outro lado, para um efeito contrário, que é a maior marginalização das pessoas e grupos que são considerados alfabetizados sem que o sejam.

(f) A contínua desvinculação do analfabetismo de suas condições estruturais de reprodução, principalmente a pobreza e a negação do direito a uma educação pública gratuita e de qualidade para toda a população, sem o qual é impensável resolver de maneira sustentável a problemática do analfabetismo.

5. Neste contexto, fazemos um renovado apelo aos organismos internacionais a fim de que coordenem entre si e cumpram seu papel técnico, assumindo sua responsabilidade diante da indispensável seriedade, transparência e credibilidade das ações governamentais que apóiam. Não é demais recordar que organismos como a UNESCO e outros dedicados às tarefas da cooperação internacional foram criados para apoiar os governos em benefício dos povos.

6. Solicitamos, finalmente, à CONFINTEA VI que aborde de maneira reflexiva e crítica a questão do analfabetismo e da alfabetização das pessoas jovens e adultas nesta região e em todo o mundo, estimulando as iniciativas governamentais, porém no marco de um diálogo sincero, não demagógico, aberto à participação das organizações sociais e dos diversos atores nacionais e internacionais que intervêm nesse campo.

Atenciosamente,

Marta Acevedo (México). Editora de livros e materiais em línguas oiginárias.

Miriam Camilo Recio (Rep. Dominicana). Coordenadora do Mestrado em Educação de Pessoas Jovens e Adultas do Instituto Tecnológico de Santo Domingo - INTEC. Integrante do Grupo de Trabalho de Alfabetização e Educação de Adultos do Conselho de Educação de Adultos para a América Latina e o Caribe - CEAAL. Ex-Diretora Geral de Educação de Adultos, Secretaria de Estado de Educação.

Lola Cendales G. (Colômbia). Educadora e pesquisadora de Dimensão Educativa, Bogotá.

Susana Fiorito (Argentina). Presidenta da Fundação Pedro Milesi e da Biblioteca Popular de Bella Vista (Córdoba). Coordenadora de um projeto de Comunidade de Aprendizagem com eixo na leitura e na escrita.

Gregorio Hernández Zamora (México). Doutor em Língua e Cultura Escrita pela Universidade de Berkeley - USA. Pesquisador e consultor independente.

María Isabel Infante R. (Chile). Coordenadora Nacional de Educação de Adultos, Ministério de Educação.

Timothy Ireland (Brasil). Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.

María Luisa Jáuregui (El Salvador). Ex-Especialista Regional de Educação de Jovens e Adultos do Escritório da UNESCO para a América Latina e o Caribe (OREALC), em Santiago.

María Eugenia Letelier (Chile). Coordenadora do Sistema Nacional de Avaliação de Aprendizagens e Certificação de Estudos, Programa Chilecalifica.

Luis Oscar Londoño Z. (Colômbia). Pesquisador em Educação (independente). Especialista em Educação de Adultos.

Vera Masagão Ribeiro (Brasil). Pesquisadora e coordenadora de programas da ONG Ação Educativa, São Paulo.

Ana María Méndez Puga (México). Professora-Pesquisadora Escola de Psicologia, Universidade Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, Morelia, Michoacán.

Eliana Ramírez de Sánchez Moreno (Peru). Educadora. Especialista na aprendizagem da leitura e escrita.

Nydia Richero (Uruguai). Professora, ex-Diretora de Escolas de Práticas Docentes, Professora de Didática, Psicologia da Educação e Didática da Linguagem Escrita nos Institutos Normais. Ex-Diretora do Departamento de Psicologia da Educação e Didática da Faculdade de Humanidades e Ciências da Educação, Universidade da República, Montevidéu. Coordenadora para o Uruguai da Rede Latino-Americana de Alfabetização.

José Rivero H. (Peru). Consultor internacional. Ex-Especialista de Educação de Adultos do Escritório Regional da UNESCO para a América Latina e o Caribe (OREALC). Membro fundador do Conselho Nacional de Educação do Peru.

Miguel Soler Roca (Uruguai). Professor uruguaio. Ex-Diretor da Divisão de Alfabetização, Educação de Adultos e Desenvolvimento Rural da UNESCO. Doutor Honoris Causa da Universidade da República, Montevidéu.

Rosaura Soligo (Brasil). Professora, formadora de professores. Pesquisadora/colaboradora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (GEPEC) da Unicamp. Coordenadora de projetos do Instituto Abaporu de Educação e Cultura, Campinas/São Paulo.

Rosa María Torres del C. (Equador). Coordenadora do Grupo Latino-Americano de Especialistas em Alfabetização e Cultura Escrita (GLEACE). Coordenadora do Pronunciamento Latino-Americano por uma Educação para Todos. Ex-Assessora da Seção Educação no UNICEF - Nova York. Ex-Ministra de Educação e Culturas. Ex-Diretora Pedagógica da Campanha Nacional de Afabetização "Monseñor Leonidas Proaño". Moderadora das redes virtuais Comunidad E-ducativa e Ecuador-lee-escribe.

Vera Barreto (Brasil). Educadora há longos anos na Educação de Jovens e Adultos - EJA. Coordenadora pedagógica do Vereda-Centro de Estudos em Educação, São Paulo.

Outras adesões:

Cecilia Amaluisa Fiallos (Equador). Especialista em educação de pessoas adultas, ex-Diretora Nacional de Educação Popular Permanente do Ministério de Educação do Equador. Integrante do grupo intergovernamental encarregado de formular o Plano Ibero-americano de Alfabetização e Educação Básica de Pessoas Adultas 2007-2016 promovido pela OEI.

Isolina Centeno Ubeda (Nicarágua). Centro de Investigación Multidisciplinaria para el Desarrollo - CIMDE, Paraguai.

Pep Aparicio Guadas (Espanha). Professor especialista em alfabetização e educação de pessoas adultas. Coordenador do Centro de Recursos e Educação Continuada da Diputación de València e Presidente do Instituto Paulo Freire da Espanha.

María de Lourdes Aravedo Reséndiz (México). Mestre em Ciências com Especialidade em Pesquisas Educativas. Subdiretora de Conteúdos Básicos do Instituto Nacional para a Educação dos Adultos-INEA.

Alberto Blandón Schiller (Colômbia). Docente. Diretor da Escola Popular KAMINOS, Bogotá.

Carmen Campero Cuenca (México). Docente-pesquisadora da Universidade Pedagógica Nacional. Integrante da Rede de Educação de pessoas Jovens e Adultas.

Nélida Céspedes Rossel (Peru). Presidenta do Conselho de Educação de Adultos da América Latina (CEAAL). Membro do Comitê Diretivo da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE). Coordenadora Regional de Tarea em Ayacucho.

Susana Córdova Avila (Peru). Educadora. Diretora Geral doInstituto de Fomento de uma Educação de Qualidade (Instituto EDUCA). Ex-Coordenadora Geral do Programa de Alfabetização Integral em San Juan de Lurigancho (Programa Edualfa). Ex- Diretora do Programa Nacional de Alfabetização.

Francisco Cueto Villamán (Rep. Dominicana). Politólogo. Diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais-FLACSO Programa República Dominicana.

Roseli Maria Duarte (Brasil). Oriunda da Educação de Jovens e Adultos. Hoje acadêmica da 8ª Fase do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José (USJ) e da 2ª Fase do Curso de Serviço Social da Faculdade do Estado de Santa Catarina (FADESC). Autora do projeto apresentado à disciplina de EJA"A EJA na escola supletiva do complexo penitenciário de Florianópolis" e o TCC "A pedagogia na ressocialização de encarcerados". Idealizadora de uma ONG que atenda à ex-presidiários e crianças e adolescentes que vivem em situaçãoes de risco, bem como suas famílias.

Lydia Ducret (Uruguai). Docente. Diretora da Revista QUEHACER EDUCATIVO, da Federação Uruguaia de Magistério (FUM-TEP).

Benito Fernández F. (Bolívia) Diretor da Associação Alemã para a Educação de Pessoas Adultas (AAEA)-Bolívia.

Dinorah García Romero (Rep. Dominicana). Educadora. Ex-Diretora Geral de Currículo. Ex-Coordenadora Geral do Centro Cultural Poveda.

Sandra González (Rep. Dominicana) Pesquisadora. Coordenadora do Centro de Estudos Educativos/Instituto Tecnológico de Santo Domingo (CEED/INTEC).

Ana Margarita Haché (Rep. Dominicana). Professora Associada da Pontifícia Universidade Católica. Mãe e Mestra. Formadora de professoras e professoras para o ensino de espanhol como língua materna. Especialista em elaboração de materiais educativos para o ensino da leitura e da escrita.

Sérgio Haddad (Brasil). Educador, Coordenador Geral da Ação Educativa, São Paulo.

Argentina Henríquez (Rep. Dominicana) Educadora, pesquisadora. Co-fundadora do Centro Cultural Poveda. Consultora nas Reformas Educativas Nacionais: Plano Decenal de Educação 1992-2002; Plano Estratégico 2002-2012; Plano Decenal 2008- 2018.

Rocío Hernández (Rep. Dominicana) Pesquisadora. Docente Mestrado em Educação de pessoas Jovens e Adultas. Decana de Gestão da Docência do Instituto Tecnológico de Santo Domingo - INTEC.

Raúl Leis R. (Panamá). Secretario General do Conselho de Educação de Adultos da América Latina (CEAAL).

Jefrey Lizardo (Rep. Dominicana). Economista. Pesquisador associado
e membro do Conselho Acadêmico da FLACSO- Programa República Dominicana.

Emilio Lucio-Villegas (Espanha). Director Cátedra Paulo Freire na Universidade de Sevilla.

Julio Alexander Parra M. (Venezuela). Graduado em Educação. Facilitador do Centro de Educação Básica de Adultos - CEBA "Los Curos", Mérida.

Sebastià Parra Nuño (Espanha). Mestre de pessoas adultas e professor da Universidade de Girona (Catalunha), aposentado. Membro do Conselho Reitor do Instituto Paulo Freire da Espanha e da Associação de Educação Popular Carlos Fonseca Amador da Nicarágua.

Magda Pepén Peguero (Rep. Dominicana). Pesquisadora associada. Co-coordenadora do Programa de Educação e Coordenadora do Programa de Promoção da Reforma Educativa da América Latina e do Caribe (PREAL) da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais - FLACSO - Programa República Dominicana.

César Rolando Picón (Peru). Consultor internacional. Ex-Diretor Geral de Educação de Adultos e ex-Vice-ministro de Gestão Pedagógica do Peru. Ex-especialista de alfabetização e educação de adultos do CREFAL. Ex-especialista de alfabetização e educação de adultos da UNESCO na América Central. Ex-coordenador fundador do Programa de Alfabetização y Educação Básica Popular do CEAAL.

Magaly Pineda (Rep. Dominicana). Socióloga, pesquisadora e feminista. Diretora Executiva do Centro de Investigação para a Ação Feminina - CIPAF.

Jorge Jairo Posada E. (Colômbia). Professor da Universidade Pedagógica Nacional de Colômbia. Docente convidado do Mestrado de Educação de Pessoas Jovens e Adultas do Instituto Tecnológico de Santo Domingo - INTEC.

Mario Quintanilla Arandia (Bolívia). Diretor do Instituto de Pesquisa e Capacitação Pedagógica e Social - IIPS. Especialista em alfabetização pelo enfoque Reflect ação. Responsável pelo programa de alfabetização do IIPS em municípios rurais da Bolívia. Docente universitário em Educação de Adultos da Universidade Salesiana.

Jorge E. Ramírez Velásquez Colômbia). Centro Internacional de Desenvolvimento Humano - CINDE - Bogotá.

Rudá Ricci (Brasil). Sociólogo. Diretor Geral do Instituto Cultiva, da Executiva Nacional do Fórum Brasil do Orçamento (FBO) e do Observatório Internacional da Democracia Participativa (OIDP).

Jorge Rivas (Uruguai). Pesquisador do Centro Regional de Cooperação para a Educação de Adultos na América Latina e no Caribe - CREFAL, Pátzcuaro-Michoacán, México.

Jorge Rivera Pizarro (Bolívia). Consultor independente. Assessor do Escritório Multipaís da UNESCO para a América Central. Ex-Oficial de Educação e Ex-Representante do UNICEF na Costa Rica e na Argentina. Fundador e primeiro Diretor do Serviço Nacional de Alfabetização e Educação Popular da Bolívia (SENALEP).

Yadira Rocha (Nicarágua). Área Educação, Instituto para o Desenvolvimento e a Democracia - IPADE, Manágua.

Benno Sander (Brasil). Presidente da ANPAE - Associação Nacional de Política e Administração da Educação do Brasil.

Sergio Serrón Martínez (Venezuela). Coordenador Nacional da Cátedra UNESCO para a Leitura e Escrita. Professor Titular da Universidade Pedagógica Experimental Libertador.

William Thélusmond (Haiti). Coordenador do 'Centre de Recherche et d'Action pour le Développement (CRAD). Coordenador do 'Regroupement Education pour Toutes et pour Tous (REPT)'. Enlace Coletivo do CEAAL no Haiti.

Madeleine Zúñiga C. (Peru). Coordenadora Nacional da Campanha Peruana pelo Direito à Educação. Consultora internacional sobre línguas, culturas e educação.

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