quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Política como Negócio


Em um artigo que escrevi no ano passado, procurei afirmar que os partidos brasileiros se "americanizaram", aproximando-se da estrutura empresarial que adotaram nos EUA. Os administradores de partidos, que ocupam cargos de direção e que são desconhecidos pelo grande público, comandam, de fato, os partidos. Assim como os parlamentares. Trata-se de uma estrutura de tipo empresarial. E que movimenta uma imensidão de recuros, favores e poderes.
O que penso que está ocorrendo é um deslocamento do coronelismo original (analisado por Victor Nunes Leal) para o interior dessas estruturas empresariais da política. Na prática, estamos alterando o perfil dos coronéis. Explico: numa primeira fase, os coronéis eram senhores dos complexos rurais. A patente que receberam vinha justamente de seu poder militar (controlavam milícias privadas) que eram "cedidas" aos governos pouco estruturados para enfrentar rebeldias sociais. Com o aumento do poder de Estado, fecharam seu poder territorial em currais eleitorais. Mas na segunda metade do século XX, muitos coronéis territoriais que emprestavam seu poder para eleger apoiadores passaram a eleger filhos e parentes próximos. Embora sutil, foi uma passagem da vida rural para a urbana, da capacidade de reestruturar seu poder econômico em declínio em poder político em ascensão. O caso de ACM é clássico. Não se tratava de um coronel clássico, mas de um coronel da política. Paulo Maluf é outro caso nítido: embora sua família comande empresas e imóveis, Paulo vive do negócio da política e não dos empreendimentos familiares.
Pois bem: nas últimas eleições, familiares sem nenhuma expressão social e econômica se elegeram bem. A passagem é sutil mas emblemática. Volto ao caso mineiro como ilustração. Uma coisa é o significado das famílias Bias Fortes e Andradas no comando alternado de Barbacena. Outra coisa é a eleição de Rodrigo de Castro, filho de Danilo de Castro, secretário de negócios políticos de Aécio Neves. Por negócios políticos estou denominando o papel de negociador de acordos ao longo do Estado. Uma espécie de cônsul europeu do período anterior à constituição dos Estados-Nação. Rodrigo de Castro recebeu uma votação consagradora, mesmo sendo um grande desconhecido. Por qual motivo? Não por ser filho de uma liderança empresarial, ou latifundiária, mas de um operador da política, a partir do Estado. Esta é a novidade deste século no Brasil: unma nova fase do coronelismo, ele mesmo nascido de uma resposta à perda de poder político das oligarquias rurais tradicionais para o poder político de Estado.

Um comentário:

AngelMira disse...

Sensacional! É exatamente como ver um retrato 3x4 da dura realidade Brasil, estados e municípios.