sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Os sentimentos despertados por Lula


Hoje, no Estadão, Gilles Lapouge comenta a deferência do Le Monde à Lula. Termina seu artigo assim:
"E nos dizemos que a Providência e o destino dos povos, tão cega, tão mal inspirada ou tão frívola no geral, desta vez acertou em cheio. Uma figura simpática como essa, realmente vale a pena."

Fiquei pensando se algum articulista da grande imprensa tupiniquim escreveria algo assim de Lula. É óbvio que não. Recentemente, troquei emails com Merval Pereira, d´O Globo, motivado por um texto que publicou em sua coluna diária em que dizia que Lula fingiu ser quem não é no COP15. Resumindo, dizia que Lula errou porque acertou. Parece demais.
Os artigos, em geral, dos articulistas da grande imprensa, parecem excessivamente contaminados por um ódio pouco disfarçado. Minha opinião é que não se trata de um ódio ideológico ou de classe, mas corporativo. Explico: com Lula, a imprensa sentiu seu prestígio de formador de opinião despencar. Este conceito - formação de opinião- tão elitista e auto-promocional, ruiu com a emergência da nova classe média. Já citei este fenômeno várias vezes neste blog.
Mas o efeito sobre os articulistas de alta cepa merece uma análise - quase uma psicoanálise - mais apurada. Fico imaginando até que ponto a empresa resistirá à mudança do perfil do consumidor. Explico: os grandes jornais - em queda livre de vendas - permanecerão com estes articulistas ou o mercado falará mais alto? É estranho porque justamente estes "formadores de opinião" que defendem com tanta garra o mercado são os que menos ouvem as vozes da rua. Preferem, num ato de arrogância, questionar (ao invés de compreender) o que não se alinha ao que pensam e ditam, como se tudo fosse um caso pensado de populismo ou caudilhismo. Argumentos de época passada, obviamente. O Brasil não é mais constituído de uma massa amorfa, formada ao largo do poder real e da cultura não folclorizada. Porque folclore é visto como perene, tradição, porque é coisa de massa amorfa. Já cultura elitizada se recria, porque é pensada, fruto de mentes brilhantes e estudadas.
Nossos articulistas vivem desta diferença entre folclore e cultura elitizada. O populismo como folclor ressurgido das cinzas para o desprazer de quem escreve para recriar a cultura superior de nosso país.

Um comentário:

GS disse...

Outro dia o Merval Pereira disse na CBN que a ministra Dilma não tem condições de ser presidente, pois não é política e nunca ocupou um cargo eletivo.

Contraditório, não é? Pois, a bem pouco tempo, se defendia – e o Merval é um ferrenho defensor dessa idéia – que são os técnicos aqueles que devem se ocupar da coisa pública.

Das contradições e do cinismo da grande mídia e da elite desse país!