quinta-feira, 18 de março de 2010

Perplexidade


Estou perplexo, até agora, com o que vi nesta assembléia geral da CPT. De um lado, uma realidade de marginalização acelerada de todas expressões do que se denomina hoje de povos tradicionais (quilombolas, povos indígenas, ribeirinhos etc). O cenário exposto nos relatos é de mera resistência, sem qualquer sinal de superação de uma toada linear de desmantelamento e folclorização destas expressões sociais. Com a queda dos índices de pobreza no Brasil, o apelo à solidariedade parece minguar. A CPT resiste. Mas o isolamento desta paisagem indica tempos bicudos. A CPT não foi uma organização qualquer. Dela, nasceram MST, Movimento de Atingidos por Barragens, oposições sindicais em todo o país, a organização de canavieiros, a organização sindical da CUT rural, para citar alguns poucos exemplos. Foi, por tanto tempo, a energia moral de todas mobilizações de luta pelos direitos de populações rurais não contempladas pela estrita legislação nacional.
O governo Lula acabou por destituir a crença de muitos agentes em caminhos e possibilidades de mudança, como são os conselhos de gestão pública. Os tempos mais que difíceis reforçam o instinto de auto-preservação e aciona a famosa solidariedade mecânica entre agentes e bispos. Aproxima-se de uma leitura próxima do estruturalismo althusseriano, onde não cabe espaço para a contradição, o espírito inovador, os embates e disputas no interior das instituições.
Continuo perplexo com o que vi e ouvi nesses dois dias. Como se o relógio tivesse dado mais uma gongada, virando a página. Implacável.

Um comentário:

AnoZeroNove disse...

Venho sempre a este espaço. Gosto da leitura e dos argumentos. Por esta razão pergunto:Como conclui a sua observação sobre este encontro?