domingo, 12 de setembro de 2010

A pior campanha das eleições presidenciais contemporâneas


Serra faz a pior campanha presidencial de um candidato com chances de vitória desde o fim da ditadura. Está sendo um desastre desde o início. Brigou publicamente com Aécio Neves, sem pensar no dia seguinte. Demorou anos-luz para definir seu vice e, quando o fez, criou mais conflito que união. Centralizou em demasia a coordenação da campanha. Conseguiu perder aliados importantes, como a UGT. E foi inseguro no programa de TV. A cereja do bolo vem sendo a denúncia de quebra de sigilo dos dados da Receita Federal. Claudicou. É um eterno movimento errático. Se era para lançar aos quatro ventos este tema, por qual motivo temeu ao perceber a entrada de Lula na disputa? Todos os artigos de analistas políticos (de toda fauna político-editorial-ideológica) apontam este erro. A Painel político da Folha de hoje chega a confirmar o que alguns dizem nos bastidores: Serra conseguiu o que tentou evitar desde o início da campanha que era colocar Lula na ofensiva contra sua candidatura.
Minha tese é que possivelmente estamos vendo a substituição de uma geração excessivamente racional em nossa política nacional. Por conta do lulismo, a oposição só terá vez se for mais emocional, sanguínea, articulando projetos ousados e simples (não um rosário de proposta, mas uma idéia-força) que atraia a nova classe média e dê esperanças concretas que quem está na base da pirâmide social sairá em breve desta condição. Temas da agenda udenista só atraem a classe média tradicional. Nem os mais abastados se preocupam efetivamente com estes temas moralistas. O Brasil mudou e a oposição parece que não percebeu isto.
Que fique claro: precisamos urgentemente de uma oposição forte e popular no Brasil. Caso contrário, o neo-getulismo cumprirá o que o getulismo não conseguiu finalizar.

5 comentários:

GS disse...

Vamos ver se dou uma dentro dessa vez rsrsrs

Quando o professor aponta que "precisamos urgentemente de uma oposição forte e popular no Brasil. Caso contrário, o neo-getulismo cumprirá o que o getulismo não conseguiu finalizar", é correto pensar na cooptarão mais profunda movimentos sociais?

Ligando as avenidas disse...

Caro Rudá,

o que seria essa geração política excessivamente racional? E por qual motivo ela estaria em vias de extinção? A primeira pergunta é porque não consigo encaixar o Lula especificamente como essa representação de uma racionalidade exacerbada, uma vez que trata-se de uma figura simbólica-carismática, embora os "operadores" do governo Lula possam até ser por demais racionais. A segunda pergunta é motivada na idéia de que Aécio Neves será um dos grandes nomes do tucanato pós eleições e ele é quem é realmente um representante de uma política excessivamente racional - basta ter-se em vista as idéia de choque de gestão, eficiência no serviço público, estado para resultados e outras novidades tipicamente instrumentais da nova gestão pública implantadas em MG.

Um abraço,

Emanuel Marra

Rudá Ricci disse...

Resposta à primeira questão:
Não se trata, apenas, de cooptação dos movimentos sociais, mas de um poderoso controle e tutela de toda sociedade civil. Uma espécie de pacto velado que eu denomino de neo-fordismo brasileiro.

Resposta à segunda questão:
O lulismo reintroduziu a emoção pura no processo eleitoral. Em certo sentido, motivado pela tutela do Estado e afastamento do PT da base social que o gerou. O marketing e a emoção destilada pelo líder retornaram à cena política com força total. As gestões FHC haviam construído a égide do racionalismo de tipo racional-legal, rejeitando a tradição e emoção da política. Trata-se de uma contradição da política tupiniquim: nossa cultura não é racional, o que abre espaço para uma lógica carismática para haver conexão entre representado e representante. É uma contradição porque o carisma lidera pela emoção mas dificilmente representa ou deixa se governar. Aécio terá que alterar seu estilo se deseja ser mais do que é. Do ponto de vista programático, já perdeu o bonde: a idéia-força de Choque de Gestão é algo ultrapassado pela crise dos EUA. O tema, agora, é a do Estado orientador e forte. Enfim, ele vive de recall, mas terá que alterar o estilo e o programa.

Strategos Aristides disse...

Rudá, falando de carisma, ainda me lembro de Max Weber e os 'Três Tipos Puros de Dominaçao Legítima' de uma aula sua lá pelos idos de 95num curso de Tecnologia em Processamento de Dados na Newton Paiva. Comungo de sua visão tanto que a utilizei como argumento de autoridade num artigo em meu blog(http://strategosaristides.blogspot.com/2010/09/etica-ideologia.html) - juntamente com trecho de um artigo do Marco Antonio Villa publicado na Folha em 2005. Porém, sou menos condescendente e mais taxativo/radical. Claro... Sou analista de sistemas, não sociólogo. Mas ainda me arrepia imaginar para onde podemos ir... Anyway, obrigado por aquelas aulas. Ainda me lembro delas como também me lembro de ti. Educador é isso ai. Alguém tinha era que convencer o "homi" que ignorância não é virtude cívica (parafraseando o Millôr).
Abraço.

A disse...

Após as eleições, caso Dilma ganhe no primeiro turno, eu vejo a formação de dois grupos distintos. O primeiro deve ser a formação de um partido conservador típico com o que restar do Dem, tentando se agarrar a uma ideologia de direita para se manter vivo. O segundo, mais próximo da visão do post seria uma reunião de lideranças como Aécio, Garotinho e até Ciro Gomes em uma possível refundação do PSDB. Em ambos os casos, contudo, me parece que, infelizmente, um protagonismo da oposição ainda será realizado por alguns anos pela imprensa (o famoso PIG).