domingo, 26 de dezembro de 2010

Ministério Dilma e "a luta continua"


Marcos Coimbra publica, hoje, artigo em que contesta que o ministério de Dilma seja mera continuidade (43% dos ministros de Lula continuarão) ou excessivamente paulista (24,3% dos ministros são paulistas, para um estado que tem 22% da população). O conteúdo é correto, mas a forma como escreve revela a polarização política que permanece entre cientistas sociais e grande imprensa brasileira. Não há uma matéria da área política ou discussão entre sociólogos em que a racionalidade e a predisposição ao diálogo pareça campear. Manchetes e enunciados parecem desfraldar as bandeiras logo de cara. As comparações são fartas. Até uma mera notícia sobre leituras de cabeceira da próxima Presidente, típica de final de ano para ser lida ao som do mar de Itapuã, é pretexto para se afirmar que o todo poderoso Lula não lê. Algo que parece conhecido até da tela branca do computador. O que interessa é expurgar a raiva que, sinceramente, me parece uma raiva de classe e não de defesa da leitura. Dilma está mais à esquerda que Lula, mas é mais palatável que o peão-classe média que revelou sua genialidade política. O que parece um paradoxo. Como pode alguém menos à esquerda - e, portanto, mais próximo do ideário da Folha de SPaulo - ser mais odiado que alguém mais distante da bandeira da democracia ocidental (sic)? Puro ódio classista. Parece insuportável que alguém vindo da ralé seja superior ao dono que empunha seu diploma de doutorado (ou curso de férias nos EUA ou França). Mas é ainda mais insuportável que o peão-classe média saia do Poder Estamental da Política Tupiquim com os mesmos vícios semânticos da ralé. Sair sem superar suas citações futebolísticas ou suas ironias (muitas vezes infantis, que parecem incitar ainda mais o ódio dos escribas de boa pena), seu riso superior (no canto da boca), sua ausência de dedo, sua índole emotiva e contraditória. Um conciliador que veio e afirma que voltará às ruas! Como pode? Só há uma resposta: mesmo construindo o país dos desejos, Lula afirma um país que só daria notícia nos dias atuais se estivesse na 25 de março ou no Saara. Mas ver na TV o shopping center abarrotado desta nova classe média cujo acabamento ainda parece úmido é demais! A grande imprensa e parte dos cientistas sociais que até pouco eram os ícones da explicação do que é nosso país não se conformam. A luta continua! Com sinais trocados.

Um comentário:

@Limarco disse...

Tem razão prezado Rudá.
Tiveram que engolir o sapo barbudo, mas não conseguiram digeri-lo.
Só acrescento, se me permite:
"Mas ver na TV o shopping center abarrotado, as estradas quase congestionas por carros populares...

Forte abraço e excelente 2011