terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A ladainha da empregabilidade

Nos anos 1990 emergiu a ladainha da empregabilidade. Sem qualificação, nada de emprego. Na área educacional, a ladainha foi acompanhada dos conceitos de competência e habilidade. A questão que ficava era: quem determina o conhecimento necessário para gerar emprego? Em seguida, nova questão: o Brasil, de fato, necessita de alta qualificação no mercado de trabalho ou se trata de demanda marginal, das empresas de ponta?
Surgiram vários estudos e eu mesmo coordenei um com mais de 1700 empresas mineiras que revelou que a maioria dos empregados formais eram contratados pelo comércio e pelo setor de bens não duráveis, com alta rotatividade e baixa qualificação. As grandes empresas não investiam em qualificação e demitiam muito, enxugando seus quadros funcionais.
Nos últimos anos os dados confirmam as dúvidas. Mais da metade dos trabalhadores empregados com título universitário não conseguem empregos na área que se formaram. E as maiores conquistas salariais não envolveram os trabalhadores mais qualificados. Justamente porque o país é produtor de commodities.
A Folha publica, hoje, que 63% dos postos de trabalho gerados com o crescimento da economia na última década foram preenchidas com trabalhadores de baixa qualficação.
A maioria das vagas criadas desde 2000 foi ocupada por trabalhadores com remuneração de até dois salários mínimos, o equivalente a R$ 1.244 a partir de janeiro.

Segundo dados preliminares do Censo divulgados pelo IBGE recentemente, a proporção de trabalhadores dessa faixa de remuneração na força de trabalho foi de 49% em 2000 para 63% em 2010.

2 comentários:

Ligando as avenidas disse...

Ruda,

Gosto dessas considerações, tendo a ver sentido nelas. De qualquer maneira, gostaria de expor uma dúvida que me surgiu ao ler essa notinha sobre a empregabilidade: (i) “Mais da metade dos trabalhadores empregados com título universitário não conseguem empregos na área em que se formaram”. (a) Esse fato não poderia estar associado também à qualidade da formação oferecida pelas universidades? (b) Em que medida seria válida a teoria do capital humano para o desenvolvimento econômico de países de economia agrário exportadora, tal como o Brasil?

Rudá Ricci disse...

O mercado não oferece, no Brasil, empregos em abundância para formação universitária. Embora algumas profissões são muito procuradas, como engenheiros (temos 600 mil engenheiros registrados no país e há estudos que apontam a necessidade de 3 vezes mais). 76% dos formandos universitários do país são oriundos da área de humanas e apenas 8,8% da área de engenharia, por exemplo.
De qualquer maneira, não há motivos para não jogarmos peso na formação de nível médio e tecnológico como ocorre, por exemplo, na Alemanha. O ensino médio não pode ser visto como ritual de passagem.