sábado, 10 de dezembro de 2011

A volta da crítica liberal-conservadora

PIB brasileiro estagnado e crise econômica. Este parece o binômio que fez acordar os liberais-conservadores brasileiros. Com o mesmo argumento de sempre: gastos excessivos e entrada do Estado na economia geram crise e recessão. 
Estou sentindo que o final de ano deu fôlego para esta análise "neorealista". 
Do alto da serenidade se afirma: "finalmente a Europa percebe que não dá para continuar com a política social perdulária". E, logo se emenda: "o que preocupa é que o governo brasileiro ainda não acordou para esta realidade". 
De certa maneira, retoma-se a linha divisória e o movimento pendular entre Hayek e Amartya Sen (na foto). 
Hayek, como se sabe, foi crítico ácido das teorias keynesianas. Sustentava sua crítica na ausência, nas teses de  Keynes, do peso das taxas de interesse e opções econômicas individuais como componentes do mercado. Depois, criticou o autoritarismo e falta de liberdade nas economias socialistas e social-democratas.
Amartya Sen, por seu turno, criticou as teorias utilitaristas que desconsideram as desigualdades sociais e nutrem profundo descaso com os direitos e liberdades, estas últimas entendidos como fim (sendo renda e bens primários compreendidos como meios garantidores deste fim). 
A provocação mais interessante elaborada por Sen foi um pequeno ensaio intitulado Ética e Economia. Este livreto que condensa algumas palestras que o autor proferiu em Berkeley durante o ano de 1986 sustenta o erro de dissociar a economia da ética, relembrando que os estudos econômicos nasceram como subtema dos estudos éticos. A dissociação deu lugar a um pensamento reducionista e técnico no que tange a economia e suas tecnalidades. 
Sen argumenta que a economia contemporânea adota como centro metodológico as análises econométricas e a escolha racional e individual dos cidadãos auto-interessados, refutando toda contribuição da economia do bem-estar e do direito como base da dinâmica econômica.
Cito Amartya Sen porque este opúsculo dá os contornos deste desencontro entre o pensamento racional-técnico e os fundamentos humanistas e éticos de toda vida social. Tal desencontro orienta este eterno pêndulo, entre orientação estatal e rejeição acanhada do Estado como obstáculo à competitividade como expressão da competência técnica. Pêndulo por que passa o debate sobre a os rumos da economia brasileira que se instalou nos últimos vinte e poucos anos.

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