quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Cândido Gribowski (IBASE) analisa governo Dilma

Destaquei algumas opiniões do diretor geral do IBASE a respeito do primeiro ano do governo Dilma. Vale a pena:


UM ANO DE DILMA: SURPRESAS E DESAFIOS
balanço, de uma perspectiva da cidadania. Claro que é um ponto de vista a partir do lugar que ocupo numa organização de cidadania ativa

Não é aquele encontro entre povo e nação encarnado por Lula, migrante nordestino, operário, identificado com a cultura popular. Mas é fundamental que se reconheça o quanto Dilma representa para o enfrentamento e a ruptura do estrutural patriarcalismo do poder no Brasil. Pelo que sei, ela não tem uma história de militância cidadã no feminismo, mas está se portando como se assim tivesse, o que torna a sua atitude extremamente relevante na perspectiva democrática de transformação do Brasil, de inclusão, justiça social, participação e sustentabilidade.
Relações internacionais
Lula teve o grande mérito de instaurar uma agenda de Brasil emergente, numa estrutura mundial muito polarizada pelos países desenvolvidos, sob o manto da hegemonia dos EUA. Ele deu atenção especial às relações Sul-Sul e às possibilidades de mudança no quadro de poder global. Só que Lula nem sempre se portou pautado por uma agenda de condicionalidades democráticas e de direitos humanos. Ele atropelou e agiu pragmaticamente. Dilma é mais coerente e tem cuidado com a legitimidade democrática da atuação brasileira, um grande país emergente, sem bomba atômica, vale a pena ressaltar.
Faxina nos ministérios
É bem verdade que muitos ministros foram substituídos por causa da corrupção. Mas esse fato em si não me parece indicar uma grande mudança na Política (com P maiúsculo mesmo). O poder no Brasil – nos três Poderes, diga-se de passagem – é visceralmente tomado pela corrupção, com raízes profundas no patrimonialismo e clientelismo.
(...) A cidadania não está nesse jogo e por isso a tentativa de recriar algo parecido ao movimento de ética na política está dando com os burros n’água.
Participação cidadã
Com Lula, o palácio de “portas abertas” à diversidade brasileira e o estímulo à participação em mais de 50 conferências nacionais e não sei quantos conselhos mobilizou milhões de brasileiras e brasileiros, mesmo que esses espaços tenham tido pouco poder real. Geraram muitas frustrações, pois eram e são, acima de tudo, espaços consultivos para construir consensos e agendas possíveis. Porém, em termos democráticos o Brasil ganhou do governo Lula a maior escola do mundo de aprendizado da cidadania política
O poder político não mudou por isso e ainda vai demorar a mudar, mas a democracia se fortaleceu como estratégia e processo capaz de operar mudanças sustentáveis no longo prazo, como são as revoluções democráticas.
Nesse campo fundamental da democracia, onde a contribuição do PT fez diferença  Dilma parece que não se move com facilidade e com visão estratégica. O combate à corrupção sem participação cidadã não passa de maquiagem no governo. A presidenta Dilma passa uma imagem de executora e que o mais importante no governo é a eficiência em si, quase algo tecnocrático.
Erradicação da miséria
Trata-se de uma tarefa ética incontornável e inadiável,  porque possível, dada a pujança de nossa economia. Salta aos olhos, porém, e explica uma não empolgação com o “Brasil Sem Miséria” a falta de participação cidadã no desenho dos objetivos e na execução do programa. Também me incomodou a ausência da presidenta Dilma na recente Conferência Nacional de Segurança Alimentar, apesar da participação do ministro Gilberto Carvalho ter mitigado o problema.
Agenda desenvolvilmentista
Por fim, destaco o modo como Dilma e seu governo dão continuidade a uma agenda desenvolvimentista, baseada nos grandes projetos e grandes corporações empresariais, sem ao menos discutir tal agenda com amplos segmentos da cidadania ativa. Outro lado igualmente ruim nessa agenda é a sua elaboração e defesa com renovado ímpeto.
A muita riqueza que ele gera se concentra em poucas mãos e é feita às custas da destruição ambiental, com ameaças à sustentabilidade da vida no planeta. Trata-se de produção de luxo e lixo em benefício de poucos (os movimentos de indignados, que se espalham pelo mundo, martelam no 1%,como o tamanho dos verdadeiros beneficiados). 

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