sábado, 31 de março de 2012

Foi o troco do Sarney

Acabo de ouvir de uma de minhas fontes em Brasília:
"Você se lembra quando Demóstenes enfrentou o Sarney no plenário do Congresso? Sarney respondeu algo como: ´você vai ver como homem reage a esta provocação´. Ele não tem problema algum, nesta altura da carreira, para abrir a comporta - ou a cachoeira - contra quem quer que seja"

DEM, PPS e Veja.... todos rolaram cachoeira abaixo

A oposição ao lulismo foi fortemente atingida nesses últimos dias. De Demóstenes em Demóstenes: Agripino, a revista Veja e até o ator Stepan Nercessian se viram na lona, de uma hora para outra. Todos envolvidos com o presidiário Carlinhos Cachoeira. Seria apenas falta total de caráter ou de senso moral? Seria devaneios de quem está no topo da cadeia alimentar? Ou se trata de desespero total de membros de uma oposição acantonada que procura alguma migalha para se armar? Eu simplesmente tenho problemas para compreender tal insanidade.
Há toda uma ilógica forma de justificar, como se os adversários fossem titãs e que sem "auxílio externo" seriam esmagados. Algo como uma versão descabida do "para fazer omeletes é preciso quebrar ovos". É isto que denominam de "realismo político"?

Até tu, revista Veja?

  



Cachoeira e o redator-chefe da Veja

26/3/2012 19:16,  Por Altamiro Borges - de São Paulo



Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que levou Carlinhos Cachoeirapara a cadeia, segue destruindo a imagem dos falsos moralistas. Após revelar os vínculos do mafioso com o líder dos demos Demóstenes Torres, surgem agora provas sobre as suas intimas relações com o editor-chefe daVeja, Policarpo Júnior – um dos participantes da entrevista desta semana com a presidenta Dilma.
Segundo o blogueiro Luis Nassif, especialista em desmascarar as falcatruas da publicação da famiglia Civita, as escutas telefônicas da PF revelam que Cachoeira e o chefão da Veja se falaram mais de 200 vezes nos últimos meses. Vale conferir a bomba:
Operação Monte Carlo chegou na Veja
Por Luis Nassif
Não haverá mais como impedir a abertura das comportas: a Operação Monte Carlo da Polícia Federal, sobre as atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, chegou até a revista Veja. As gravações efetuadas mostram sinais incontestes de associação criminosa da revista com o bicheiro. São mais de 200 telefonemas trocados entre ele e o diretor da sucursal de Brasília Policarpo Jr.
Cada publicação costuma ter alguns repórteres incumbidos do trabalho sujo. Policarpo é mais que isso. Depois da associação com Cachoeira, tornou-se diretor da sucursal da revista e, mais recentemente, passou a integrar a cúpula da publicação, indicado pelo diretor Eurípedes Alcântara. Foi um dos participantes da entrevista feita com a presidente Dilma Rousseff.
Nos telefonemas, Policarpo informa Cachoeira sobre as matérias publicadas, trocam informações, recebe elogios.Há indícios de que Cachoeira foi sócio da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos.

Até tu, Nercessian?


Já não é mais uma cachoeira. É uma enxurrada. Agora é o deputado e ex-ator Stepan Nercessian (PPS-RJ) que se lambuzou no cofre de Carlinhos Cachoeira. Recebeu R$ 175 mil do empresário. Pelo visto, é algo corriqueiro pedir emprestado para ele. Ao menos no meio político, onde este senhor amealhou uma legião de amigos. 

Alan Marques - 14.dez.11/Folhapress
Deputado Stepan Nercessian em sessão da Câmara; ele recebeu R$ 175 mil de Carlinhos Cachoeira
Deputado Stepan Nercessian em sessão da Câmara; ele recebeu R$ 175 mil de Carlinhos Cachoeira

Nercessian admitiu à Folha que recebeu o dinheiro, após ser informado de que as transações aparecem em grampos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que levou à prisão de Cachoeira.
O valor de R$ 160 mil, segundo ele, seria usado na compra de um apartamento no Rio. O deputado devolveu o dinheiro, de acordo com extrato enviado à reportagem.
"Estava fazendo o empréstimo [com um banco para comprar o imóvel] e, na hora 'H', fiquei com medo de não sair o dinheiro e pedi para ele [Cachoeira], para não perder o negócio. Ele é um cara que eu sei que se eu pedisse ele emprestava. Acabou que o empréstimo saiu e não precisei do dinheiro", afirmou.
Stepan disse que é amigo de Cachoeira há muitos anos, já que os dois são de Goiás.
Outros R$ 15 mil, diz, foi usado para comprar ingressos do Carnaval carioca para Cachoeira.
Que confusão geral! De tempos em tempos, a República Tupiniquim tem um Pedro Collor, um Roberto Jefferson ou uma ação da PF que desnudam um pouco mais esta "rede de amizades". Eu ainda me surpreendo com isto. Ainda não consigo entender esta insanidade geral que coloca em jogo uma instituição em virtude de um apartamento ou casa nova. A total prevalência da vida privada sobre a pública, muitas vezes utilizando dinheiro de pobre. Dinheiro de contraventor que se utiliza das amizades para tirar dinheiro dos cofres públicos também entra nesta vergonha geral (ou falta dela).

Agripino é a bola da vez

O MP-RN (Ministério Público do Rio Grande do Norte) encaminhou à Procuradoria Geral da República um depoimento do empreiteiro potiguar José Gilmar de Carvalho Lopes, no qual ele afirma que o senador e presidente nacional do DEM, José Agripino Maia, teria recebido R$ 1 milhão em dinheiro “vivo” para a campanha de 2010 no Estado. O senador, que desde terça-feira é o líder do partido no Senado, nega veementemente a denúncia.
Parece que estamos presenciando o desmonte do DEM. Já era anunciada a fusão com o PMDB, em 2013. Se continuar assim, será extinção pura e simples. Restaria a defecção gradual e filiação progressiva para outro partido, não deixando rastros. 
Uma vergonha que o PFL tenha nascido e morrido assim. 
O que me deixa mais intrigado é o motivo para que gente assim assuma justamente a bandeira da moralidade na política como seu mote. É algo estranho porque chama para si a atenção para esses desvios. Como um gay enrustido atacar a comunidade homossexual. 
Não vai bastar ao Agripino juntar as mãos e orar. 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Dilma está voltando...

Mas antes, visitará o Taj-Mahal!




Taj Mahal (em hindi ताज महलpersa تاج محل) foi construído entre 1630 e 1652. Possivelmente você já ouviu sobre sua história, mas vale a pena lembrar. Feito em mármore branco por 20 mil homens foi concebido pelo  imperador Shah Jahan, em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a "jóia do palácio" (Mumtaz Mahal... taj significa "coroa", em persa). Daí ter ficado conhecido como a maior prova de amor do mundo. A sua cúpula é costurada com fios de ouro. 




Heleno

Renato Dias é demitido da Rádio Terra FM


Recebo a seguinte informação que repasso aos visitantes deste blog:

Ontem, o jornalista da Rádio Terra FM (104,3), Renato Dias, graduado em Jornalismo (Alfa) e Sociologia (UFG), com pós em Políticas Públicas (UFG) e mestrando em Direito, Relações Internacionais e  Desenvolvimento (PUC), foi demitido da rádio. Ele era o único repórter de Política da emissora. Dias postou seu desabafo no Facebook:
"Depois de milhares de reportagens, entrevistas exclusivas e furos, fui demitido, sem explicações, da Rádio Terra FM (104,3). Acredito ter feito, durante todo esse período, um jornalismo ético, plural, investigativo, compatível com a minha formação acadêmica e profissional. Apesar disso, estou desempregado. Mas com a consciência tranquila de ter informado o ouvinte sobre os bastidores da política e da cultura em Goiás e
as suas ramificações com o submundo do crime".
Às vezes, a vida de jornalista parece com a de técnico de futebol.

Salário médio mundial é de 2,7 mil reais e do Brasil é 1,4 mil


Salário médio mundial é R$ 2,7 mil, segundo OIT

Dentro da lista de 72 países, o Brasil encontra-se na 51ª posição, com um salário médio de US$ 778 (R$ 1,4 mil)


Arquivo/Você SA/EXAME.com
Dinheiro dentro de caixa segurada por executivo Salário
Os R$ 2,7 mil mensais e R$ 32 mil anuais estão abaixo dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, onde a média salarial é de R$ 5,4 mil por mês e R$ 67 mil por ano
Brasília – Uma pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu que o salário médio mundial é US$ 1.480 (R$ 2,7 mil). Trata-se de um valor aproximado, baseado em dados de 72 países, que não incluem algumas das nações mais pobres do mundo. Todos os números são ajustados para refletir variações no custo de vida de um país para outro e se referem apenas a trabalhadores assalariados e não a autônomos ou pessoas que vivem com a renda de benefícios sociais.
Dentro da lista de 72 países, o Brasil encontra-se na 51ª posição, com um salário médio de US$ 778 (R$ 1,4 mil). Os cinco primeiros lugares são ocupados por Luxemburgo, Noruega, Áustria, EUA e Reino Unido. Dentre os latino-americanos, Argentina (40), Chile (43) e Panamá (49) estão a frente do Brasil.
Os pesquisadores da OIT chegaram a este número, basicamente, dividindo o valor total da receita mundial, que está em US$ 70 trilhões (R$ 127 trilhões) por ano, pelo número de pessoas no planeta (7 bilhões). A média de rendimentos anuais estaria em cerca de US$ 10 mil (R$ 18 mil) por pessoa por ano.
Mas nem todos têm o mesmo salário e, dentre a população mundial, muitos estão fora da força de trabalho. Complexo, o cálculo do salário médio mundial tem sido parte de um projeto da OIT, que é ligada às Nações Unidas, e esta é a primeira vez que as cifras, que traz dados coletados em 2009, são divulgadas.

Pommard Les Cras 2009

O preço é alto. Vem da Cotê de Beaune, Borgonha. Os vinhos desta região costumam ser intensos e robustos. Mas este é especial. Um vinho muito delicado, mas que paradoxalmente consegue ser marcante.
Achei tão equilibrado e delicado que não tenho ideia com o que pode harmonizar. Um amigo sommelier falou em risoto com codornas. Sei lá. 

A primeira entrevista de Lula após a recuperação


O ex-presidente, depois da última sessão de radioterapia a que se submeteu, em fevereiro

'Sem voz estaria morto', diz Lula em entrevista exclusiva


Grupo Folha


Um dia depois de ter anunciado o desaparecimento do tumor na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista à Mônica Bergamo e Cláudia Colucci que teve mais medo de perder a voz do que de morrer com a doença.
"Se eu perdesse a voz, estaria morto", afirmou o ex-presidente, quase 16 quilos mais magro e com a voz um pouco mais rouca que o normal.
Sobre sua vida política, Lula disse que tentará evitar uma agenda "alucinada" e que vai procurar a senadora Marta Suplicy (PT-SP) para que ela entre na campanha do ex-ministro Fernando Haddad pela Prefeitura de São Paulo.
"Eu acho que ele vai surpreender muita gente. E desse negócio de surpreender muita gente eu sei. Muita gente dizia que a Dilma era um poste, que eu estava louco, que eu não entendia de política. Com o Fernando Haddad será a mesma coisa."

Folha - Como o sr. está? 
Luiz Inácio Lula da Silva - O câncer está resolvido porque não existe mais aqui [aponta para a garganta]. Mas eu tenho que fazer tratamento por um tempo ainda. Tenho que manter a disciplina para evitar que aconteça alguma coisa. Aprendi que tanto quanto os médicos, tanto quanto as injeções, tanto quanto a quimioterapia, tanto quanto a radioterapia, a disciplina no tratamento, cumprir as normas que tem que cumprir, fazer as coisas corretamente, são condições básicas para a gente poder curar o câncer. Foi difícil abrir mão... Hoje é que eu tenho noção do que o Zé Alencar passou. [Fica com a voz embargada e os olhos marejados]. Eu, que convivi com ele tanto tempo, não tinha noção do que ele passou. A gente não sabe o que é pior, se a quimioterapia ou a radioterapia. Uns dizem que é a químio, outros que é a rádio. Para mim, os dois são um desastre. Um é uma bomba de Hiroshima e, o outro, eu nem sei que bomba é. Os dois são arrasadores. 

Folha - O sr. teve medo?
Lula - A palavra correta não é medo. É um processo difícil de evitar, não tem uma única causa. As pessoas falam que é o cigarro [que causa a doença], falam que é um monte de coisa que dá, mas tá cheio de criancinha que nasce com câncer e não fuma. Qual é a palavra correta? A palavra correta... É uma doença que eu acho que é a mais delicada de todas. É avassaladora. Eu vim aqui com um tumor de 3 cm e de repente estava recebendo uma Hiroshima dentro de mim. [Em alguns momentos] Eu preferiria entrar em coma. Kalil [interrompendo] - Pelo amor de Deus, presidente! Em coma? Eu falei para o Kalil: eu preferiria me trancar num freezer como um carpaccio. Sabe como se faz carpaccio? Você pega o contrafilé, tira a gordura, enrola a carne, amarra o barbante e coloca o contrafilé no freezer e, quando ele está congelado, você corta e faz o carpaccio. A minha vontade era me trancar no freezer e ficar congelado até... 

Folha - Sentia dor? 
Náusea, náusea. A boca não suporta nada, nada, nada, nada. A gente ouvindo as pessoas [que passam por um tratamento contra o câncer] falarem não tem dimensão do que estão sentindo. 

Folha - Teve medo de morrer? 
Eu tinha mais preocupação de perder a voz do que de morrer. Se eu perdesse a voz, estaria morto. Tem gente que fala que não tem medo de morrer, mas eu tenho. Se eu souber que a morte está na China, eu vou para a Bolívia. 

Folha - O sr. acredita que existe alguma coisa depois da morte? 
Eu acredito. Eu acredito que entre a vida que a gente conhece [e a morte] há muita coisa que ainda não compreendemos. Sou um homem que acredita que existam outras coisas que determinam a passagem nossa pela Terra. Sou um homem que acredita, que tem muita fé. 

Folha - Mesmo assim, teve um medo grande? 
Medo, medo, eu vivo com medo. Eu sou um medroso. Não venha me dizer: 'Não tenha medo da morte'. Porque eu me quero vivo. Uma vez ouvi meu amigo [o escritor] Ariano Suassuna dizer que ele chama a morte de Caetana e que, quando vê a Caetana, ele corre dela. Eu não quero ver a Caetana nem... 

Folha - Qual foi o pior momento neste processo?
Foi quando eu soube. Vim trazer a minha mulher para um exame e a Marisa e o Kalil armaram uma arapuca e me colocaram no tal de PET [aparelho que rastreia tumores]. Eu tinha passado pelo otorrino, o otorrino tinha visto a minha garganta inflamada. Eu já estava há 40 dias com a garganta inflamada e cada pessoa que eu encontrava me dava uma pastilha No Brasil, as pessoas têm o hábito de dar pastilha para a gente. Não tinha uma pessoa que eu encontrasse que não me desse uma pastilha: 'Essa aqui é boa, maravilhosa, essa é melhor'. Eu já tava cansado de chupar pastilha. No dia do meu aniversário, eu disse: 'Kalil, vou levar a Marisa para fazer uns exames'. E viemos para cá. O rapaz fez o exame, fez a endoscopia, disse que estava muito inflamada a minha garganta. Aí inventaram essa história de eu fazer o PET. Eu não queria fazer, eu não tinha nada, pô. Aí eu fui fazer depois de xingar muito o Kalil. Depois, fui para uma sala onde estava o Kalil e mais uns dez médicos. Eu senti um clima meio estranho. O Kalil estava com uma cara meio de chorar. Aí eu falei: 'Sabe de uma coisa? Vocês já foram na casa de alguém para comunicar a morte? Eu já fui. Então falem o que aconteceu, digam!' Aí me contaram que eu tinha um tumor. E eu disse: 'Então vamos tratar'. 

Folha - Existia a possibilidade de operar o tumor, em vez de fazer o tratamento que o senhor fez. 
Na realidade, isso nem foi discutido. Eles chegaram à conclusão de que tinha que fazer o que tinha que fazer para destruir o bicho [quimioterapia seguida de radioterapia], que era o mais certo. Eu disse: 'Vamos fazer'. O meu papel, então, a partir dessa decisão, era cumprir, era obedecer, me submeter a todos os caprichos que a medicina exigia. Porque eu sabia que era assim. Não pode vacilar. Você não pode [dizer]: 'Hoje eu não quero, não tô com vontade'. 

Folha - O senhor rezava, buscou ajuda espiritual? 
Eu rezo muito, eu rezo muito, independentemente de estar doente. 

Folha - Fez alguma promessa? 
Não. 

Folha - Existia também uma informação de que o senhor procurou ajuda do médium João de Deus. 
Eu não procurei porque não conhecia as pessoas, mas várias pessoas me procuraram e eu sou muito agradecido. Várias pessoas vieram aqui, ainda hoje há várias pessoas me procurando. E todas as que me procurarem eu vou atender, conversar, porque eu acho que isso ajuda. 

Folha - E como será a vida do sr. a partir de agora? Vai seguir com suas palestras?
Eu não quero tomar nenhuma decisão maluca. Eu ainda estou com a garganta muito dolorida, não posso dizer que estou normal porque, para comer, ainda dói. Mas acho que entramos na fase em que, daqui a alguns dias, eu vou acordar e vou poder comer pão, sem fazer sopinha. Vou poder comer pão com aquela casca dura. Vai ser o dia! Eu vou tomando as decisões com o tempo. Uma coisa eu tenho a certeza: eu não farei a agenda que já fiz. Nunca mais eu irei fazer a agenda alucinante e maluca que eu fiz nesses dez meses desde que eu deixei o governo. O que eu trabalhei entre março e outubro de 2011... Nós visitamos 30 e poucos países. Eu não tenho mais vontade para isso, eu não vou fazer isso. Vou fazer menos coisas, com mais qualidade, participar das eleições de forma mais seletiva, ajudar a minha companheira Dilma [Rousseff] de forma mais seletiva, naquilo que ela entender que eu possa ajudar. Vou voltar mais tranquilo. O mundo não acaba na semana que vem. 

Folha - Quando é que o senhor começa a participar da campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo? 
Eu acho o Fernando Haddad o melhor candidato. São Paulo não pode continuar na mesmice de tantas e tantas décadas. Eu acho que ele vai surpreender muita gente. E desse negócio de surpreender muita gente eu sei. Muita gente dizia que a Dilma era um poste, que eu estava louco, que eu não entendia de política. Com o Fernando Haddad será a mesma coisa. 

Folha - O senhor vai pedir à senadora Marta Suplicy para entrar na campanha dele também? 
Eu acho que a Marta é uma militante política, ela está na campanha. 

Folha - Tem falado com ela? 
Falei com ela faz uns 15 dias. Ela me ligou para saber da saúde. Eu disse que, quando eu sarar, a gente vai conversar um monte. 

Folha - E em 2014? O senhor volta a disputar a Presidência? 
Para mim não tem 2014, 2018, 2022. Deixa eu contar uma coisa para vocês: eu acabei de deixar a Presidência da República, tem apenas um ano e quatro meses que eu deixei a Presidência. Poucos brasileiros tiveram a sorte de passar pela Presidência da forma exitosa com que eu passei. E repetir o que eu fiz não será tarefa fácil. Eu sempre terei como adversário eu mesmo. Para que é que eu vou procurar sarna para me coçar se eu posso ajudar outras pessoas, posso trabalhar para outras pessoas? E depois é o seguinte: você precisa esperar o tempo passar. Essas coisas você não decide agora. Um belo dia você não quer uma coisa, de repente se apresenta uma chance, você participa. Mas a minha vontade agora é ajudar a minha companheira a ser a melhor presidenta, a trabalhar a reeleição dela. Eu digo sempre o seguinte: a Dilma só não será candidata à reeleição se ela não quiser. É direito dela, constitucional, de ser candidata a presidente da República. E eu terei imenso prazer de ser cabo eleitoral.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Círculo Militar e os caras pintadas


A manifestação dos caras-pintadas diante do Clube Militar

29
MAR
18h40
Foi um acaso. Eu passava hoje pela Rio Branco, prestes a pegar o Aterro, quando ouvi gritos e vi uma aglomeração do lado esquerdo da avenida. Pedi ao motorista para diminuir a marcha e percebi que eram os jovens estudantes caras-pintadas manifestando-se diante do Clube Militar, onde acontecia a anunciada reunião dos militares de pijama celebrando o "31 de Março" e contra a Comissão da Verdade.
Só vi jovens, meninos e meninas, empunhando cartazes em preto e branco, alguns deles com fotos de meu irmão e de minha cunhada. Pedi ao motorista para parar o carro e desci. Eu vinha de um almoço no Clube de Engenharia. Para isso, fui pela manhã ao cabeleireiro, arrumei-me,  coloquei joias, um vestido elegante, uma bolsa combinando com o rosa da estampa, sapatos prateados. Estava o que se espera de uma colunista social.
A situação era tensa. As crianças, emboladas, berrando palavras de ordem e bordões contra a ditadura e a favor da Comissão da Verdade. Frases como "Cadeia Já, Cadeia Já, a quem torturou na ditadura militar". Faces jovens, muito jovens, imberbes até. Nomes de desaparecidos pintados em alguns rostos e até nas roupas. E eles num entusiasmo, num ímpeto, num sentimento. Como aquilo me tocou! Manifestantes mais velhos com eles, eram poucos. Umas senhoras de bermudas, corajosas militantes. Alguns senhores de manga de camisa. Mas a grande maioria, a entusiasmada maioria, a massa humana, era a garotada. Que belo!
Eram nossos jovens patriotas clamando pela abertura dos arquivos militares, exigindo com seu jeito sem modos, sem luvas de pelica nem punhos de renda e sem vosmecê, que o Brasil tenha a dignidade de dar às famílias dos torturados e mortos ao menos a satisfação de saberem como, de que forma, onde e por quem foram trucidados, torturados e mortos seus entes amados. Pelo menos isso. Não é pedir muito, será que é?
Quando vemos, hoje, crianças brasileiras que somem, se evaporam e jamais são recuperadas, crianças que inspiram folhetins e novelas, como a que esta semana entrou no ar, vendidas num lixão e escravizadas, nós sabemos que elas jamais serão encontrada, pois nunca serão procuradas. Pois o jogo é esse. É esta a nossa tradição. Semente plantada lá atrás, desde 1964 - e ainda há quem queira comemorar a data! A semente da impunidade, do esquecimento, do pouco caso com a vida humana neste país.
E nossos quixotinhos destemidos e desaforados ali diante do prédio do Clube Militar.  "Assassino!", "assassino!", "torturador!", gritava o garotinho louro de cabelos longos anelados e óculos de aro redondo, a quem eu dava uns 16 anos, seguido pela menina de cabelos castanhos e diadema, e mais outra e mais outro, num coro que logo virava um estrondo de vozes, um trovão. Era mais um militar de cabeça branca e terno ajustado na silhueta, magra sempre, que tentava abrir passagem naquele corredor humano enfurecido e era recebido com gritos e desacatos. Uma recepção com raiva, rancor, fúria, ressentimento. Até cuspe eu vi, no ombro de um terno príncipe de Gales.
Magros, ainda bem, esses velhos militares, pois cabiam todos no abraço daqueles PMsreforçados e vestidos com colete à prova de balas, que lhes cingiam as pernas com os braços, forçando a passagem. E assim eles conseguiram entrar, hoje, um por um, para a reunião em seu Clube Militar: carregados no colo dos PMs.
Os cartazes com os rostos eram sacudidos. À menção de cada nome de desaparecido ao alto-falante, a multidão berrava: "Presente!". Havia tinta vermelha cobrindo todo o piso de pedras portuguesas diante da portaria do edifício. O sangue dos mortos ali lembrados. Tremulavam bandeiras de partidos políticos e de não sei o quê mais, porém isso não me importava. Eu estava muito emocionada. Fiquei à parte da multidão. Recuada, num degrau de uma loja de câmbio ao lado da portaria do prédio. A polícia e os seguranças do Clube evacuaram o local, retiraram todo mundo. Fotógrafos e cinegrafistas foram mandados para a entrada do "corredor",  manifestantes para o lado de lá do cordão de isolamento. E ninguém me via. Parecia que eu era invisível. Fiquei ali, absolutamente sozinha,  testemunhando  tudo  aquilo, bem uns 20 minutos, com eles passando pra lá e pra cá, carregando os generais, empurrando a aglomeração, sem perceberem a minha presença. Mistério.
Até que fui denunciada pelas lágrimas. Uma senhora me reconheceu, jogou um beijo. E mais outra. Pessoas sorriram para mim com simpatia. Percebi que eu representava ali as famílias daqueles mortos e estava sendo reverenciada por causa deles. Emocionei-me ainda mais. Então e enfim os PMs me viram. Eu, que estava todo o tempo praticamente colada neles! Um me perguntou se não era melhor eu sair dali, pois era perigoso. Insisti em ficar l mesmo, com perigo e tudo. E ele, gentil, quando viu que não conseguiria me demover: "A senhora quer um copo d'água?". Na mesma hora o copo d'água veio. O segurança do Clube ofereceu: "A senhora não prefere ficar na portaria, lá dentro? ". "Ah, não, meu senhor. Lá dentro não. Prefiro a calçada mesmo". E nela fiquei, sobre o degrau recuado, ora assistente, ora manifestante fazendo coro, cumprindo meu papel de testemunha, de participante e de Angel. Vendo nossos quixotinhos empunharem, como lanças, apenas a sua voz, contra as pás lancinantes dos moinhos do passado, que cortaram as carnes de uma geração de idealistas.
A manifestação havia sido anunciada. Porém, eu estava nela por acaso. Um feliz e divino acaso. E aonde estavam naquela hora os remanescentes daquela luta de antigamente? Aqueles que sobreviveram àquelas fotos ampliadas em PB? Em seus gabinetes? Em seus aviões? Em suas comissões e congressos e redações?  Será esta a lição que nos impõe a História: delegar sempre a realização dos "sonhos impossíveis" ao destemor idealista dos mais jovens?