terça-feira, 6 de março de 2012

Desaquecimento chinês e desindustrialização

Ontem foi um Deus nos Acuda no mundo financeiro. Tudo porque a China redefiniu a projeção de seu crescimento econômico para este ano (de 8% para 7,5%). Já se esperava algo do gênero em função da crise européia, grande comprador de produtos chineses. A integração do país à economia mundial é refletida principalmente no rápido crescimento de seu papel no comércio internacional, cuja participação total no comércio mundial passou de 1% em 1980 para quase 6% em 2003. Em 2004, a China tornou-se a terceira maior nação a negociar em dólares, atrás dos Estados Unidos e da Alemanha e logo à frente do Japão. O total das importações de produtos têxteis e de vestuário da China pelos Estados Unidos aumentou de forma acentuada no início de 2005; mais de 60% por ano, de acordo com a Divisão de Comércio Exterior do Departamento de Recenseamento dos Estados Unidos. Mas as exportações da China caíram 0,5% em janeiro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2011. 
Aí começa nosso problema. Porque teremos um impacto importante na nossa balança comercial num momento em que há gritaria generalizada contra o processo de desindustrialização do país. Sinais trocados (nossa economia vive da expansão econômica da China) que podem revelar ausência de estratégia nacional para explorar conjunturas internacionais oscilantes. 
Quais os sinais da desindustrialização brasileira? Para Rowthorn e Wells (De-industrialization and Foreign Trade. Cambridge: Cambridge University Press, 1987), a desindustrialização é definida como um fenômeno caracterizado principalmente pela retração relativamente expressiva do emprego no setor manufatureiro. Pois bem: durante o regime militar a indústria chegou a representar 48% do PIB brasileiro. A partir da década dos oitenta do século passado a indústria chegou a 28% do PIB; Com o Plano Real tivemos uma pequena recuperação da indústria, que alcançou a marca de 30% do PIB na passagem do governo ao presidente Lula. Hoje essa relação voltou a cair e chegou a 26% do PIB no início do governo Dilma. A FIESP vem divulgando que 25% dos produtos que circulam no comércio brasileiro são importados. A balança comercial da indústria brasileira registrou um déficit, em 2010, de 37 bilhões de dólares. Nos últimos cinco anos, a participação dos produtos manufaturados tem diminuído, passando de 55% em 2005 para 39% em 2010. 
Enfim, talvez tenhamos que produzir uma estratégia de desenvolvimento mais elaborada, à altura do peso e expectativas internacionais sobre nosso país. 
PS: A tabela que ilustra esta nota foi elaborada por André Nassif, do BNDES.

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