quarta-feira, 20 de junho de 2012

Erundina, a última petista

Erundina deixou todos petistas constrangidos. Fez o que qualquer petista histórico faria. O PT dos anos 1980, não este pragmático, sem cor, sem cheiro, sem forma. Praticamente matou a candidatura de Haddad. Só uma reviravolta para colocar a militância engajada (da zona leste e sul) na rua.
Os pragmáticos, do PT e PSB, estão furiosos e jogam a culpa na escolha do nome da ex-prefeita. Não se importam com programa ou ideologia. Se importam com vitória, com cálculo de votos. Assim, pautados pela popularidade, se tornam conservadores, fiéis escudeiros do status quo, justamente porque não querem mudanças fundamentais, mas apenas se tornarem populares. Um atalho para a construção da hegemonia gramsciana. Em Gramsci, havia diálogo e costura de múltiplos interesses. Mas o pragmatismo petista de hoje é rebaixado. Não procura costurar interesses a partir de um programa. Faz o contrário: constrói seu programa a partir do cálculo de força eleitoral. Cede. Se rebaixa. Na verdade, não se preocupa com programa algum. Eleito, administra e sai a cata de programas que tenham algum sentido estatal-desenvolvimentista, o que sobrou do modo petista de governar. Aquele modo petista, mesmo difuso e confuso, tinha uma inspiração de transformação social, plasmada no slogan "inversão de prioridades". O participacionismo, outra marca do início dos governos petistas, foi abruptamente abandonado. O motivo parece óbvio: não há como abrir a participação dos de baixo se os cálculos eleitorais exigem acordos com as elites coronelistas de sempre.
Erundina é a última petista. O que deve incomodar profundamente os caciques do PSB e do PT.

3 comentários:

jdaniel disse...

Finalmente leio uma avaliação lúcida e honesta feita por alguém que tem autoridade e conhecimento sobre [o que foi] o PT.

Jorge Luiz Teixeira disse...

Salve a Erundina!

Ela tem uma consciência histórica que não se curvou ao poder do dinheiro e da corrupção da ética.
P.T. Partido dos Traidores!

Eliete disse...

Sou eleitora de Erundina desde quando, ainda filiada ao PT, votei nela nas previas que definiram a candidatura petista para a prefeitura de SP, derrotando o Plinio, candidato da "diretoria". Desde então, acompanho sua atuação política, concordando na maioria das vezes, discordando em outras tantas, mas sempre mantendo o respeito e a admiração pela pessoa que mantém a defesa de princípios, posições políticas e ideológicas com as quais concordo. No geral, coerência tem sido uma marca importante, mesmo se filiando a um partido (?) como o PSB, mesmo tendo tomado a decisão "pragmática" de participar do governo do vice do Collor (o que desencadeou a fúria do então purista e ideológico PT que, com sua recusa abriu espaço para a construção da hegemonia tucana por dois mandatos). Por tudo isso, discordo da forma como ela conduziu o atual processo. Se era inaceitável a aliança com o nefasto, por que aceitar compor a chapa? Só pra recuar depois e, como você mesmo disse, "matar" a candidatura petista, que ela reafirma considerar melhor? Confesso que esperava mais da minha eterna candidata, pois sua presença na chapa petista contribuiria para elevar o nível do debate e como diz umamigo, " trazer a perifa para o centro da campanha.