sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O jeitinho, de Chico de Oliveira

Chico de Oliveira retoma a reflexão sobre o caráter nacional num instigante ensaio publicado na revista Piauí. O título é "Jeitinho e Jeitão". Revisita, rapidamente, vários clássicos e aporta numa tentativa que denomina de materialista. A tese
O jeitinho é um atributo das classes dominantes brasileiras que se transmitiu às classes dominadas
A frase é reprodução textual.
O autor sugere que as classes dominantes burlaram permanentemente as leis vigentes em função de nosso capitalismo tardio. Cita as capitanias hereditárias como solução capenga à falta de recursos de Portugal, distribuindo terras a fidalgos falidos. Vai adiante e passa por JK, que teria colocado uma pá de cal nas pretensões modernas do Rio de Janeiro, pretensões falidas que se expressam nos homens e mulheres de sandálias surradas e vestimentas empobrecidas que desfilam, hoje, pelas ruas da até então capital do país. Para Oliveira, um símbolo da modernidade truncada.
Também cita a importação de italianos e outros europeus pelos cafeicultores ao invés de incorporar ao mundo do trabalho a massa de negros libertos. Libertos, por sinal, nos lembra, por um jeitinho todo especial: a Lei do Ventre Livre libertava sem lhes dar emprego ou salário e a Lei dos Sexagenários libertava negros que, em sua grande maioria, não atingia 40 anos de idade.
Um país cuja incompletude das relações mercantis capitalistas, sempre fez com que muitos brasileiros "sobrassem". O jeitinho brasileiro seria, então, fruto desta informalidade e uma tradução do jeitão das classes dominantes. Fruto do atraso.
O texto é fácil de ler. Flui. Mas, confesso, me pareceu, ele mesmo, um produto do jeitinho brasileiro. Chico de Oliveira força a mão para trazer uma tese de inspiração marxista de linhagem ortodoxa. Em suma, sugere que as classes dominadas se apropriaram do erro das classes dominantes como estratégia de sobrevivência. Uma malandragem menor para sobreviver num mundo em que as leis e ordem social conspurcam contra seus direitos, o que fazem da marginalidade social e política, uma tônica.
Esta é uma leitura mais funcionalista que marxista. Faltou conversar com o adversário, ou seja, não há contradições, mas simples subordinação entre classes. Os dominados se defendem, já que não lhes resta mais nada. Oliveira, sem perceber, descreve um mundo kafkiano.
Não sei, mas tive uma leve intuição que este ensaio se tratava de um jeitinho marxista de ser brasileiro.

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