quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O dilema da imprensa mineira

Algo que sempre me incomodou desde que cheguei, há vinte anos, em MG, é a exportação de talentos, em especial, da imprensa. Fernando Mitre, Fernando Gabeira, Chico Pinheiro, vários são os nomes de jornalistas de destaque que não permanecem por muito tempo por estas bandas. Nunca entendi bem os motivos, embora uma das pistas seja a média salarial mineira (em qualquer profissão) que está muito abaixo da média nacional. Basta pesquisar o salariomêtro do governo paulista (ver AQUI ). Mas há outra questão que me deixa perplexo: a linha editorial.
Hoje temos, logo cedo, um bom exemplo deste problema. A ilustração ao lado é a capa do jornal Hoje em Dia. Quase 2/3 da capa foi dedicada ao discurso de Aécio Neves, ontem, no Senado. Há consenso (até esta capa ir para as ruas) entre jornalistas que o discurso foi pífio e fraco, embora irônico e apontando problemas concretos. Ontem, publiquei, como ilustração, a nota publicada no blog de Josias de Souza, da Folha/UOL. Este tipo de linha editorial atinge quase a totalidade da imprensa mineira. A seguir, reproduzo a capa do Estado de Minas de hoje. Uma capa mais comedida e imparcial, embora trabalhe com a polarização pretendida pelo candidato tucano. Aparece Aécio e Dilma em proporções iguais. Embora seja a manchete, ocupa menos de 1/3 da capa de hoje. Algo similar à capa do jornal Metro BH de hoje.
Logo abaixo, reproduzo a manchete do jornal O Tempo é ainda mais comedida: apenas uma pequena chamada, no rodapé esquerdo da capa.
Imagino que o internauta já tenha percebido a linha de minha argumentação: existe uma certa "patriotada" na linha editorial da imprensa mineira, embora de maneira diferenciada. Não há dado algum que esta política atraia leitores ou venda em banca. Não é exatamente aí que está a motivação editorial. Então, continua a dúvida sobre o que ocorre. Obviamente que há boatos sobre a saúde financeira e sobre o peso das verbas publicitárias. Mas esta é uma tese.
O fato é que MG possui uma média de renda menor, portanto, menos leitores em potencial. Não temos falta de quadros e profissionais na área de comunicação. Não falta pauta. Mas falta imaginação e ousadia. O caminho adotado parece o mais seguro, mas também o mais conservador. E, tenho para mim, a lógica jornalística tem pouca relação com conservadorismo, que significaria, no limite, repetir a mesmice todo santo dia.
Resumindo: não seria mais correto elaborar uma manchete que desse a verdadeira dimensão do fato? Que separasse opinião de reportagem? Que buscasse a análise dos dois lados (e dos outros que participarão da gincana eleitoral do próximo ano e que não desejam que esta polarização Aécio/Dilma ocorra) sobre os dois eventos (discurso do senador e evento do partido da presidente)? Que analisasse os motivos para PT comparar seus governos com os de FHC já que este não é candidato? Que analisasse os motivos do discurso de Aécio? Não seria mais jornalismo?


Um comentário:

Eugenio Raggi disse...

Na edição de hoje do EM, no 1° caderno, 8 páginas de balancete do BDMG. Qual é o custo disso? O que o jornal ganha em troca de tamanho espaço publicitário que vendeu ao governo?