terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O discurso de FHC no seminário do PSDB em BH

O PSDB de Minas Gerais tomou uma excelente iniciativa, inaugurada ontem à noite em BH, de desenvolver um ciclo de debates "Minas Pensa o Brasil". Já comentei aqui como os partidos brasileiros poderiam se espelhar em seus pares europeus que tradicionalmente abrem à sociedade reflexões sobre seu país. Lula promete o mesmo, começando pelo nordeste, onde um seminário discutirá as políticas sociais na inauguração da versão século XXI das Caravanas da Cidadania.
FHC abriu o ciclo. Sua fala foi um discurso para a militância e quadros tucanos (e apoiadores). Elevou o tom contra o governo Dilma Rousseff e ressaltou que os governos petistas estariam "roubando" a agenda e as propostas tucanas.
Acho que poderia mirar melhor. No meu entender, do ponto de vista do discurso eleitoral, deveria atacar o PT e não o governo Dilma. Já postei aqui, ontem, minha percepção que parte significativa do eleitorado não parece muito a vontade com o PT (e líderes petistas), embora tenham convicção a respeito da agenda lulista (que sustenta seu consumo familiar crescente). Seria mais inteligente se FHC explorasse esta fissura latente. E seria ainda mais inteligente se diminuísse a desconfiança das classes menos abastadas em relação à possibilidade dos tucanos desmontarem as políticas de transferência de renda e oferta de crédito popular.
FHC poderia ter inaugurado uma nova fase do discurso tucano, falando para um eleitorado mais amplo. Falou para dentro. Uma constante no discurso oposicionista tupiniquim.
Aprendi, anos atrás, que as urnas sempre apontam o norte, como uma bússola. Lembro de uma entrevista com o prefeito (tampão) de Vila Velha (ES) que me dizia que não havia percebido que as urnas tinham dito que a prioridade de governo seria o saneamento básico (os eleitores teriam votado no "mosquito", anulando o voto na eleição que este prefeito venceu). Para Dilma, as urnas demonstraram que grande parte do eleitorado brasileiro se identificou com o discurso de Marina. Mas Dilma virou as costas para esta dica. Da mesma maneira, a oposição brasileira (liderada pelos tucanos) está se negando a interpretar as dicas são deixadas nas urnas.
Pensei que FHC, pela capacidade de análise que possui, caminharia neste sentido. Mas deixou a impressão que as montanhas de Minas encobriram o olhar mais distante. Ainda há tempo.

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