quarta-feira, 17 de abril de 2013

Redução da maioridade penal e conservadorismo brasileiro

A pesquisa DATAFOLHA só dá precisão ao que todos já sabiam: quase a totalidade dos brasileiros é favorável à redução da maioridade penal. Dado que compõe a onda conservadora que toma o Brasil de cabo à rabo. Se você tem dúvida, leia a biografia, recém lançada, do Casagrande, ex-jogador do Timão. Recordar a Democracia Corinthiana e a participação do Sócrates, Casa, Vladimir, Zeon e outros chega a dar vergonha em função da omissão dos jogadores de hoje.
E não é só no futebol, obviamente.
O que ocorreu com aquele clima libertário? O lulismo. Explico: Lula (e já afirmei isto aqui) decidiu ser popular e abdicou da tarefa pedagógico que toda esquerda, para ser esquerda, adota. Até o advento do lulismo, havia enfrentamento em relação às grandes questões de ampliação e consolidação da democracia brasileira. Não havia tanto medo de não ser totalmente popular. Mas o lulismo chegou a criar uma frase de efeito para sintetizar esta opção pela despolitização: "não sou de esquerda, sou metalúrgico", disse Lula.
Não se trata de uma postura pessoal, mas uma quase definição ideológica. Veja o que o prefeito Fernando Haddad disse após tomar conhecimento da pesquisa Datafolha. Afirmou que tem dúvidas (ainda tem dúvidas?) sobre a eficácia (eficácia ou ideologia?) da redução da maioridade penal, mas defendeu o endurecimento da pena para o menor (este termo já foi superado pelo ECA, era empregado nos tempos do Código do Menor, mas em tempos de conservadorismo galopante, o melhor é continuar usando tudo o que é conservador) infrator na Fundação Casa.
Dá para entender? O alvo é o PSDB paulista (que administra a Fundação Casa), não o debate sobre direitos civis e obrigações do Estado.
O lulismo vem se curvando ao conservadorismo e, assim, abre espaço para esta onda, uma das piores da história do país. Porque é distinto quando se dissemina uma cultura autoritária ou fascista a partir de um regime ditatorial de quando se espraia valores fascistas a partir da sociedade. A sociedade civil é a fonte da energia moral de um país, que alimenta regras, comportamentos e instituições.
O fascismo societal é muito mais grave que uma ditadura porque legitima todo ato de discriminação e impele as instituições ao autoritarismo.
Isto Lula terá que carregar no seu currículo.

3 comentários:

MARCOS BICALHO disse...

Uma dúvida : Desde 1993 aparecem propostas para reduzir a idade penal. Dando uma lida em : http://jus.com.br/revista/texto/14105/reducao-da-idade-penal-em-face-da-constituicao-federal/print , no capítulo III começa "Proposta de Emenda à Constituição n° 03, de 22 de março de 2001 [33]" Relator do projeto: Senador José Roberto Arruda.
Relator do Projeto: Senador Íris Rezende.
Relator do projeto: Senador magno Malta.
Relator do projeto: Senador Papaléo Paes. Dê uma olhada nos caras reformadores.
Também tramitaram no Congresso Nacional as seguintes Propostas de Emenda à Constituição, todas com a pretensão de reduzir a idade penal: PEC n° 171 de 1993; PEC n° 37, de 1995; PEC n° 91 de 1995; PEC n° 45 de 1996; PEC n° 49 de 1996; PEC n° 386 de 1996. podemos ver uma sociedade conservadora antes da existência do lulismo.

Rudá Ricci disse...

Marcos,
O conservadorismo existe antes de Jesus Cristo. O que digo é que um governo de esquerda não pode fazer o que Lula fez, querendo ser apenas popular. Ele não abriu uma discussão no Brasil que criasse reflexão política. Abandonou qualquer forma de gestão participativa. Enfim, a omissão (e medo) em relação ao papel pedagógico de qualquer esquerda me parece um erro grosseiro. Poder pelo poder, meu caro, melhor ficar como estava. Ao menos não nos frustrava. A cultura política dos anos 1980, quando surgiu o PT, a CUT e Lula, era muito mais progressista. Até que Lula afirmou que só seria candidato se fosse para ganhar. Aí deu no que deu.

Mauro Assis disse...

O negócio do lulismo foi criar consumidores. Nenhuma discussão foi fomentada pelos governos petistas a respeito de cidadania etc. O próprio Lula disse um sem número de vezes que o negócio era dar ao povo geladeira nova.
Ou seja, ganhou mesmo com o lulismo o fabricante da geladeira...