quarta-feira, 15 de maio de 2013

A partidarização do sindicalismo brasileiro





Sindicatos se multiplicam e centrais redistribuem as forças partidárias


FERNANDA ODILLA

DE BRASÍLIA
CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO

Impulsionado por cifras cada vez mais robustas arrecadadas junto aos trabalhadores e patrões, o movimento sindical brasileiro passa por acelerada transformação.
Nos últimos quatro anos, o número de sindicatos credenciados no Ministério do Trabalho e Emprego cresceu 54%, processo que foi acompanhado por um aumento das entidades associadas às centrais e por uma redistribuição de forças partidárias no movimento sindical.
Grupos ligados ao PC do B, PSD, PSTU e PSOL são os que mais ganharam espaço e representatividade entre os trabalhadores de 2008 a 2012.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores), aliada histórica do PT, e a Força Sindical, comandada por sindicalistas ligados ao PDT, continuam como as maiores centrais: representam mais de um terço de 9.700 entidades.
Juntas, as duas centrais abocanharam no ano passado 60% dos R$ 141,4 milhões da contribuição sindical.
No entanto, números do ministério mostram que quem mais cresceu proporcionalmente, nos últimos quatro anos, foram a CSP-Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas), ligada ao PSTU e ao PSOL; a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), presidida por um
filiado ao PCdoB, e a UGT (União Geral dos Trabalhadores), comandada por um integrante do PSD.
A CTB pulou de 144 sindicatos, em 2008, para 565 ano passado, o que lhe garantiu um aumento de cerca de 170% dos recursos repassados via contribuição sindical nesse período. A entidade recebeu R$ 8,9 milhões em 2012. Dois dos principais sindicatos em sua base são o dos metroviários de São Paulo e metalúrgicos de Betim (MG).

A UGT não apoiou formalmente a eleição de Dilma Rousseff em 2010, mas foi chamada pela presidente para uma audiência individual este ano, algo raro.

MAIS AO CENTRO
Dilma tem interesse em agregar o PSD, partido fundado por Kassab, à sua base aliada, para garantir seu apoio no próximo pleito.
A central passou de 376 sindicatos em 2008 para 1.046 no ano passado, tendo crescido principalmente entre os comerciários de São Paulo e do Nordeste.
Para expandir sua base, a UGT mira categorias e sindicatos mais ligados ao setor de serviços, enquanto as principais centrais, CUT e Força Sindical, lideram a representação entre sindicatos como metalúrgicos e bancários.
O forte consumo interno, catapultado pelo Bolsa Família e pelo aumento da renda dos trabalhadores, aumenta o poder de barganha de categorias como a dos comerciários, diz o cientista político Rudá Ricci.
Sindicalistas da Força Sindical ligados aos comerciários também buscam aumentar sua representatividade nas entidades em que atuam.
Editoria de Arte/Folhapress
RADICAL
Única opositora declarada do governo federal, a CSP-Conlutas aumentou em mais de 550% o número de entidades associadas, mas continua sem direito a receber a contribuição sindical, por não atingir o índice mínimo de representatividade necessário.
A central adotou uma estratégia de disputas mais acirradas -e até conflitos diretos -nas relações trabalhistas. É responsável pelas paralisações em obras de infraestrutura, como na Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA), e na fábrica da GM (General Motors) em São José dos Campos.
Criada no governo Vargas, a contribuição sindical equivale a um dia de salário, descontado de todos os trabalhadores com carteira assinada (filiados ou não a sindicatos); 10% são passados às centrais.Neste ano, o governo estima que o montante a ser partilhado entre as centrais será 10% maior do que em 2012.
Neste ano, CUT, Força Sindical, UGT, CTB e a Nova Central Sindical (NCST) são as centrais que, por atingir o um índice de representatividade, têm direito a receber os recursos da contribuição e a disputar cadeiras em assentos de conselhos -como o do FGTS e o do FAT, por exemplo- para participar de negociações.

Um comentário:

Roque Callage Neto disse...

vou fazer comentário mais amplo. Não creio que haja muito o que estranhar ou comentar, caro Ricci. Sindicalismo não representa quase nada da nova sociedade civil da pós industrialização com novas tecnologias e representação civil e cívica.O que observamos aqui é só retrato do subdesenvolvimento baseado em "desenvolvimentismo" dos anos 30 a 80 .O que vc registra como fordismo atrasado. Não chegamos ainda ao novíssimo toyotismo e kan ban social democrata do Japão e mundo asiático ,índex da nova economia com justiça social democracia avançada que começa, do século XXI .Estamos como bons idiotas contra-reformistas, na onda atrasada da Companhia de Jesus (reciclada do século XVI, agora contra a nova reforma capitalista que vem da união entre Europa-EUA e negócios do mundo do século XXI do Pacífico.A máxima deste lado do mundo é : Governo paternal policial e protetor e máfias de rent seeking tirando proveito, deixando migalhas aos excluídos para manterem o status quo...Vc leu Weber,não é, leu Poliarquia em Robert Dahl? Este é o autor...qual a poliarquia desejável que teremos? Abrs...