sexta-feira, 3 de maio de 2013

MEC insiste em errar ou pedido de bom senso ao Mozart

Não basta a imposição de currículos via avaliações sistêmicas externas (ENEM, ENADE e IDEB). Não basta as premiações por melhoria do IDEB, como se este desempenho escolar tivesse na aula dada seu principal fator de promoção. O MEC continua ladeira abaixo no retrocesso pedagógico.
Agora, para responder ao déficit de professores da área de exatas e biologia, ofertará pós-graduação em universidades a professores que lecionam estas disciplinas, desde que seja comprovada a melhoria do desempenho dos seus alunos nestas matérias.
Uma profunda bobagem que desconhece todos dados disponíveis a respeito das condições de trabalho (independente da titulação do professor), assim como desconhece que o principal fator de desempenho do aluno é a escolaridade da mãe. Obviamente que quem está à frente deste "programa" é o mesmo pessoal que sugere as premiações por desempenho do aluno. Erram sem dó e não aprendem com o erro, o que é, aliás, medida para medir inteligência, segundo um adágio popular.
Vou reproduzir, mais uma vez, a carta da professora Áurea Regina Damasceno, que publiquei na Folha de S.Paulo, enviada à Secretária de Educação de Belo Horizonte, para justificar seu pedido de exoneração. Áurea tinha 30 anos de experiência na rede municipal de ensino e tinha acabado de concluir seu doutorado.
Caro Mozart Neves (que coordenará este famigerado programa): mergulhe na realidade da educação básica. Pelo bem da educação.


Reproduzo algumas passagens desta carta:

“Hoje, dia 19 de março de 2009, vou mais um dia para a escola, desanimada e certa de que as aulas que preparei para os alunos do 3º ciclo, 1º turno, não serão dadas. Mas busco entusiasmo não sei onde, entro para a sala de aula (sala 10, 6ª série) e inicio repetindo o que tenho falado com os alunos desde o primeiro dia de aula: coloquem o caderno, a agenda, o lápis, caneta, borracha, régua, tesoura sobre a mesa e guardem a mochila debaixo da carteira ou dependurada no encosto da cadeira (muitos se deitam, durante a aula, na mochila para dormir ou se escondem atrás dela para dar gritos ensurdecedores sem motivo algum ou para atirar bolinhas de papel enfiadas no
corpo das canetas esferográficas).”

“Essa atividade demanda mais ou menos uns 20 min, pois metade da sala não ouve, ou finge que não ouve, continua a correr pela sala, está virada para trás conversando, está subindo nas bancadas sobre as janelas e de lá pulando de cadeira em cadeira e outros tantos estão a olhar no vazio, sem nada fazer.”

“Pergunto por que estão sem a agenda e sem as folhas, várias respostas: esqueci, meu irmão rasgou, fiz bolinha de papel, fulano (referindo-se a um colega de sala, ou mesmo de outras salas que durante os intervalos invadem como loucos as salas vizinhas, batem, jogam mochilas pelas janelas, rasgam material, andam sobre as carteiras) pegou rasgou ou fez bolinha de papel, rasguei porque achei que não iria precisar. (ah, seria tão fácil se você os colocasse então em duplas para fazerem a atividade, penso eu). Ah! sim, seria e a responsabilidade e o compromisso ficariam para ser construídos não se sabe quando. “

“Agora aula na sala 09, também 6ª série. Quando chego à porta da sala tenho vontade de sumir, há pelo menos uns dez alunos de pé sobre a bancada debaixo da janela. (...) A garota - infelizmente ainda não sei todos os nomes - que se assenta na última carteira da 2ª fila, perto da janela, pula da bancada para o tampo de uma carteira e depois para o tampo da sua, desce para a cadeira, pula no chão e corre, gritando pela sala atrás de um garoto. Passam na minha frente como se lá eu não estivesse e voltam. Paro na frente de todos e fico olhando, tenho a impressão de que estou numa rebelião. Penso: o que fazer?”

“Volto, não chego a parar um minuto na frente da sala e caio. Caio sem saber como nem porque. Ouço apenas um silêncio e: - a professora caiu!!!! Levanto-me de um só pulo, com algumas dores. Continuo o sermão dizendo que caí certamente porque perdi o equilíbrio em função do comportamento deles."

“Logo que iniciei as aulas perguntei à coordenadora qual era o diagnóstico desses alunos, ela me disse que não sabia e que iria procurar saber. Já são alunos da escola, pelo menos desde o ano passado, e estão na 8ª série. Sempre que lhes peço algo, a turma responde: “ô professora eles num faz nada não, tem poblema de cabeça”.”

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