quinta-feira, 11 de julho de 2013

O conservadorismo na base das teorias institucionais

Nos últimos dias explicitei minhas divergências com o institucionalismo. Minha tese é que se trata de uma vertente teórica conservadora, que refuta qualquer sinal de novidade advindo da sociedade (ou do ambiente, como preferem nomear) como risco à sobrevivência das organizações e instituições.
Decidi, ainda que brevemente (como cabe a um blog), explicar melhor esta tese.
Antes, indico um belo ensaio sobre o tema, publicado na Revista Eletrônica de Gestão Organizacionaol (vol. 10, número especial, de dezembro de 2012), intitulado "A Trajetória Conservadora da Teoria Institucional", escrito por Cristina Amélia Carvalho, Marcelo Milano Falcão Vieira e Sueli Maria Goulart Silva.
Minha primeira observação diz respeito ao que Chanlat denomina de "autonomia relativa das instituições políticas ante a sociedade" e o papel central da representação formal no universo político.
Aqui há nítida rejeição à representação como reflexo dos interesses do representado. Tendo como foco central a saúde da instituição, a sociedade civil aparece como variável a ser conquistada, numa inconfessável sugestão de sociedade como pluralidade irracional de interesses e desejos. Não por outro motivo, esta vertente teórica se aproxima da teoria das elites.
Logo após a Segunda Guerra, vários teóricos alemães e anglo-saxões passaram a destacar as organizações como centro das relações e estabilidade social. Nos anos 1970, os estudos de Berger e Luckman (sociedade como processo de exteriorização, objetivação e interiorização) inspiraram uma nova linhagem de estudos que definem a institucionalização como obrigações e circunstâncias que normatizam o pensamento e ações sociais (esta definição está em Meyer e Rowan). Há algo de funcionalista nesta orientação. Vejamos.
As instituições, para estas novas elaborações, responderiam às influências do ambiente, aos valores e crenças (algo próximo do conceito de moral em Durkheim, não? Ou, ainda, a um determinismo ambiental). Avançam na direção do que seriam as representações dos indivíduos sobre ambientes que determinam suas ações. E chegam à necessidade das instituições se legitimarem. Ora, como sustentam os autores do estudo que indiquei no início desta nota, tal elaboração sugere a conformação (e não a transformação) e a reprodução institucional como elemento central do que define como vida social. Não há qualquer possibilidade de compreensão do conflito e da diversidade como centro da criatividade humana (e suas criações que plasmam suas dúvidas, crenças e certezas). Padrões, adequação e redução de risco são as palavras de ordem desta vertente teórica.
Ora, é justamente esta linhagem acadêmica que parece instruir várias análises muito conservadoras que emergiram como discurso racional para explicar as mobilizações de junho. Como algo passageiro, adolescente, que emerge de uma dimensão da vida humana (a sociedade civil) que não se sustenta em racionalidades permanentes. As elites, enfim, teriam que compreender e reinterpretar as ruas. Não há uma única palavra a respeito da pertinência das instituições existentes. Justamente porque se trata de certo pânico em relação ao novo, ao conflito, ao questionamento dos anacronismos de instituições que não respondem mais aos desejos e dinâmica da sociedade. Em Durkheim, ao menos, havia a possibilidade interpretativa do fim das instituições tradicionais que envelhecem ao deixar de ouvir os valores expressos na vida cotidiana. Sem dinamismo e reinvenção, sem diálogo com o homem simples e seus valores, as instituições se rompem. As que tentam se impor pelo passado distanciam-se ainda mais do seu papel de coesão.
A autopreservação, portanto, não é o melhor caminho.

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