domingo, 6 de outubro de 2013

Marina e Campos: incerteza

Abaixo, o artigo de Fernando Rodrigues (UOL) sobre a união de Marina e Campos.
Começo a acreditar que a UOL tem algum mecanismo de espionagem parecido com o do Obama: é exatamente o que penso. Sei não. Acho que vou começar a parar de pensar em "voz alta".


Efeitos da união entre Marina Silva e Eduardo Campos são incertos

Fernando Rodrigues

Ação política foi positiva para os dois, mas é cedo para saber o efeito real

Dilma e Aécio perdem, mas tucano é no momento o mais prejudicado
Foi uma jogada de mestre de Marina Silva e de Eduardo Campos a união de ambos. Um fato político de grande magnitude. Ainda assim, é prematuro desejar definir já vencedores e perdedores definitivos na disputa eleitoral de 2014.
Falta um ano para a sucessão de Dilma Rousseff. Será em 5 de outubro de 2014.
A permanência de Marina Silva no jogo reforça a candidatura de Eduardo Campos. Mas é necessário verificar se a soma das intenções de votos de ambos vai se materializar nas próximas pesquisas. Sobretudo se Marina e Campos conseguirão ampliar esse patrimônio que até agora mantinham separados.
Será uma grande surpresa se já nas próximas pesquisas Eduardo Campos herdar todo o patrimônio eleitoral de Marina. Não é implausível a hipótese de os eleitores marineiros dispersarem suas preferências entre alguns candidatos. Também podem preferir neste primeiro momento fazer um “pit stop” no grupo de indecisos.
Não se deve esquecer que a eleição presidencial caminhava para ter 4 candidatos competitivos em 2014: Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
Agora, restam 3 pré-candidatos fortes na disputa.
Quantos menos candidatos houver, mais chances de a eleição se encerrar no primeiro turno. Exatamente como deseja João Santana, o marqueteiro de Dilma.
Seria útil se algum instituto de pesquisa fizesse um teste além dos cenários tradicionais. Em geral, só os nomes dos candidatos a presidente são apresentados aos entrevistados.
Dada a atual conjuntura, o ideal seria também averiguar agora as possíveis chapas completas na pesquisa. Já há, pelo menos, duas possibilidades reais: Dilma Rousseff (PT) & Michel Temer (PMDB) e Eduardo Campos (PSB) & Marina Silva (Rede). Essas duas duplas poderiam ser testadas numa simulação de segundo turno. Sem uma pesquisa, é impossível dizer quem tem mais potencial de vitória.
No caso de Aécio Neves (PSDB), ainda não há ainda indicação de quem pode ser o candidato a vice-presidente.
Aécio é no momento o maior derrotado com a aliança entre Marina e Eduardo Campos. O tucano (em terceiro lugar) assistiu à segunda colocada nas pesquisas embarcar na canoa do quarto colocado. Ele, Aécio, ficou até agora espremido na terceira posição, no patamar próximo de 12% das intenções de voto –um pouco mais, um pouco menos.
Dilma Rousseff e o PT também perdem? Perdem, com certeza. Há agora uma chapa de oposição –ou aliança programática, no jargão dos políticos– com poder para agregar mais forças ao longo do caminho.
Ainda assim, é inegável que para Dilma é mais confortável disputar contra 2 candidatos do que contra 3 nomes competitivos.
Eis, a seguir, o saldo para cada uma das forças políticas na eleição presidencial de 2014:
Dilma Rousseff (PT): perde porque viu nascer uma possível chapa competitiva e com discurso capaz de repercutir em parte considerável do eleitorado descontente com o desempenho do governo federal. Mas a petista também tem agora o conforto de disputar a eleição contra menos adversários de peso.
Qual é o fator que mais pesa contra Dilma no momento? É a expectativa ruim a respeito da economia. O Brasil está em baixa no imaginário dos agentes econômicos nacionais e internacionais. A menos que o PIB surpreenda no final de 2013 ou bem no início de 2014, a reeleição de Dilma ficará em risco. Há uma sensação geral de que a presidente é honesta, trabalhadora e bem-intencionada, mas que não consegue entregar a mercadoria –qual seja, um país que cresce com mais rapidez apesar das adversidades internas e externas. Nesse ambiente, se os eleitores enxergarem algum candidato com um perfil mais “fazedor” do que Dilma, pode ser mortal para a petista.
Mas ninguém deve dar de barato que Dilma está com viés apenas de derrota. Os milhões de reais que gasta para agradar políticos com cargos e verbas do Orçamento (e atrair partidos para sua aliança) ainda são uma ferramenta poderosa para a sucessão do ano que vem. Sem contar a máquina de propaganda do governo federal, insuperável em tamanho por qualquer um de seus adversários.
Eduardo Campos (PSB): perdeu Ciro Gomes (que deixou o PSB) e ganhou Marina Silva. Uma troca muito vantajosa.
Marina Silva completa o projeto do governador de Pernambuco com quase todos os elementos faltavam ao cacique do PSB: projeção nacional, um discurso neomoderno e uma tropa de militantes voluntários nas redes sociais.
O pessebista também tem feito o dever de casa. Esforçou-se para estreitar seus contatos com o establishment. Tem mantido contato regular com empresários e banqueiros.
O que falta a Eduardo Campos? Precisa melhorar sua posição nas pesquisas de opinião (sobretudo no Sudeste), demonstrando ter condições de chegar com força em 2014. Falta também tempo de TV e rádio ao candidato, e isso vai depender de quantos partidos nanicos e médios ele conseguirá atrair para o seu projeto.
Aécio Neves (PSDB): o tucano é o maior prejudicado. Está há meses empacado no mesmo lugar nas pesquisas, na terceira colocação. Pode perder a posição se Campos herdar os votos de Marina.
Pior ainda: Aécio foi imprudente ao deixar o Brasil justamente na semana mais decisiva desta fase da campanha (está em Nova York). O tucano reforça a imagem de político preguiçoso, “bon vivant” e de alguém pouco comprometido com o projeto de ser candidato. Afinal, como é possível imaginar que tenha marcado para esta semana sua saída do país, justamente quando dezenas de políticos estavam decidindo em qual partido estariam filiados para 2014? Ou mais: sabendo que Marina Silva enfrentaria um dilema por causa do fracasso do pedido de registro da Rede, Aécio poderia (ou até deveria) ter feito um gesto para se aproximar da eventual aliada. Preferiu manter a agenda de viagem a Nova York.
Enfim, a estratégia do tucano foi uma catástrofe de marketing –e foi decidida por ele próprio.

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