terça-feira, 22 de outubro de 2013

O leilão de Libra

Parece até brincadeira. Para quem é místico, há uma coincidência interessante na data de leilão de Libra: ocorreu no penúltimo dia do período de regência do signo (é assim que se fala?) do zodíaco que leva o mesmo nome. Sei disto porque sou libriano. Não me pergunte mais nada.
Dito isto, vamos para algo menos ameno.
Não vejo como o leilão de ontem ter algum impacto político, muito menos eleitoral. Tente explicar para alguém comum o que o Brasil perderá com a venda. Se ficar mais de quinze minutos explicando e o ouvinte começar a olhar para o relógio, terá a prova que este assunto não impactará nada em termos de política de massa. É algo muito técnico e que ingressa numa série de projeções e dados sobre a saúde financeira da Petrobrás.
Veja como começa a nota crítica elaborada pelo Movimento de Atingidos por Barragem (MAB):
Com a realização do leilão do campo de Libra, onde a Petrobrás terá 40%, e as empresas estrangeiras e privadas – Shell, Total, CNOOC e CNPC - terão 60% do petróleo do Pré-sal e pagarão para o Brasil o preço mínimo exigido, o Brasil que era dono de 100% do Petróleo agora só tem 40%. É lamentável, o Brasil ficou mais pobre.
Diga se esta sopa de letrinhas não forma um haikai cuja última frase gera uma surpresa em relação ao texto anterior. Um brasileiro comum diria: o que uma coisa tem a ver com a outra?
Agora, leia a frase de Carlos Lessa que pincei da entrevista que ele concedeu ao IHU/Unisinos:
Se o preço do barril de petróleo extraído continuar sendo o do padrão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP, de cem dólares, no campo de Libra teremos algo em torno de quatro trilhões de reais em vinte anos de produção.
Dizer que teremos 4 trilhões de reais em vinte anos não causa mais impacto que os argumentos que o MAB apresentou? Não está mais próximo do ufanismo lulista dos últimos anos? Pois bem. A entrevista de Lessa é uma cacetada no governo. Afirma que a Petrobrás foi espremida pelo governo nos últimos anos e reduziu o caixa de 70 bilhões de reais para 7 bilhões. E faz um trocadilho meio manjado com o nome da Presidente da empresa: "o argumento da Graça é sem graça". Citou o nome de Graça Foster, evidentemente, e refutou seu argumento que o leilão não seria a privatização do pré-sal.
Mas, vamos lá. A frase que destaquei não tem mais impacto popular que esta última?
Como explicar que a Petrobrás já tinha assumido todo o risco e que sobra ao consórcio vitorioso só tomar whisky enquanto o petróleo fino jorra?
Finalmente, o texto da matéria do Correio do Brasil (matéria de ontem à noite cujo título era "Leilão de LIbra coloca o Brasil em novo patamar geopolítico"), começa afirmando que a extração do petróleo de Libra fará o Brasil assumir a quinta posição no ranking dos países produtores, segundo a OPEP.
Sei não. Acho que o governo Dilma ganhará pontos com o leilão de ontem. Mesmo que a versão seja distante do fato.

2 comentários:

AF Sturt Silva disse...

Mais ainda teve o discurso em rede nacional ontem a noite. Dilma não perde 2014 de jeito algum.

Berzé disse...


- Pra mim, o pré-sal foi privatizado.

- Como assim, se o que há é um contrato com prazo expresso, que só poderá ser renovado se o Brasil julgar que sim?

- Pra mim, o pré-sal foi privatizado.

- Então por que o projeto Libra será administrado por uma estatal brasileira especialmente criada para isso, sendo detentora exclusiva do poder de vetar toda e qualquer iniciativa?

- Pra mim, o pré-sal foi privatizado.

- Qual a razão, então, do baita desconforto dos opositores diante do assunto?

- Pra mim, o pré-sal foi privatizado.