quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Falecimento de Padre Libânio

Esta me pegou no contrapé. Realmente, não sei o que dizer.
Vejam o que ele disse, recentemente, sobre as manifestações de rua. Seu pensamento era jovem.

Morre, aos 81 anos, padre João Batista LibanioO jesuíta e vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, sofreu um infarto em Curitiba durante uma viagem

Publicação: 30/01/2014 11:27 Atualização: 30/01/2014 11:37

 (Beto Novaes/EM/D.A Press)
Morreu na manhã desta quinta-feira o padre João Batista Libanio, vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, na Grande BH. O jesuíta de 81 anos estava em Curitiba (PR) e sofreu um infarto. Reconhecido mundialmente por seu profundo conhecimento na área teológica e sua ação pastoral junto aos mais simples, padre Libanio prestou importante e valioso serviço à Arquidiocese de Belo Horizonte. 

O religioso era doutor em Teologia, professor na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Estudou Filosofia na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e também cursou em letras neolatinas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Seus estudos de Teologia Sistemática foram concluídos na Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, onde também estudou com os maiores nomes da teologia européia. 

Era mestre e doutor (1968) em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma. Por mais de trinta anos dedicou-se ao magistério e pesquisa teológica. Foi professor de teologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul e do Instituto Teológico da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Posteriormente foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 

É autor de mais de 125 livros, dos quais 36 de autoria própria e os demais em colaboração com outros autores, alguns editados em outras línguas. Além dos mais de 40 artigos em periódicos especializados, publicou inúmeros artigos em jornais e revistas. Foi assessor da Conferência dos Religiosos do Brasil e do Instituto Nacional de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 

Em entrevista ao Estado de Minas, em julho de 2013, Libanio falou sobre o Papa Francisco. “Ele vai levar também a imagem de que os políticos não pensam no futuro do país, são egoístas. Com as recentes manifestações nas ruas, descartando-se, claro, atos de vandalismo, o papa Francisco viu uma geração nova que avança e tem força para mudar os destinos do Brasil”, avaliou. Junto com outros jesuítas em Minas, ele comemorou a eleição do santo pontífice.

PCdoB filia "ídolos" dos rolezinhos

Não era nem um pouco previsível.
Mas, desde que a PM e os administradores de shoppings, aliados a algumas rádios sensacionalistas fomentaram a discriminação contra os rolezinhos, os "meninos de junho" tentaram encostar nos "ídolos" dos rolezinhos. Antes das manifestações da última semana, tentaram agendar "Rolezaum" em alguns shoppings mais centrais, em várias capitais do país. Não deu em nada.
O PCdoB, pelo que informa a matéria publicada no Terra (abaixo), conseguiu. O que revela uma capacidade e tanto deste partido em envolver a juventude brasileira. Já comandam grande parte das organizações estudantis do país. Agora, encostaram com precisão nos rolezinhos.
Com boa dose de ironia, afirmo que o PCdoB precisa dar uma medalha à PM, principalmente a paulista. É o maior motivador de politização da juventude brasileira, desde junho do ano passado.
Uma medalha de menor expressão deveria ser dada para os administradores de shoppings e às rádios sensacionalistas.
Já para a classe média tradicional, bem, aí a obra de Anton Tchecov já revelava o que esperar de seu comportamento padrão desde o século XIX.

SP: organizadores de rolezinhos se filiam à União da Juventude Socialista

De acordo com a entidade, entre os novos membros está Vinicius Andrade, um dos líderes do rolezinho ocorrido no Shopping Itaquera Foto: Divulgação
De acordo com a entidade, entre os novos membros está Vinicius Andrade, um dos líderes do rolezinho ocorrido no Shopping Itaquera
Foto: Divulgação

Segundo Vinicius, a UJS o fez enxergar a necessidade de construir uma nova sociedade, onde as necessidades da juventude da periferia sejam atendidas. “Não queremos briga, arrastão e violência. Queremos apenas nos encontrar, nos divertir, beijar na boca e ocupar todos os espaços sem sofrer preconceito por parte da elite ou violência por parte da polícia. Não iremos desistir e, com o apoio da UJS, vamos até o fim”, disse ele.Organizadores dos chamados rolezinhos em São Paulo se filiaram na última segunda-feira à União da Juventude Socialista (UJS), entidade ligada ao PCdoB e que comanda a União Nacional dos Estudantes (UNE). De acordo com a UJS, entre os novos membros está Vinicius Andrade, um dos líderes do rolezinho ocorrido no Shopping Itaquera, na zona leste da capital, no último dia 11.
SP: homem é agredido e adolescentes apreendidos em 'rolezinho'Clique no link para iniciar o vídeo
SP: homem é agredido e adolescentes apreendidos em 'rolezinho'
“Quando organizamos o ‘rolezinho’ no Shopping Itaquera, os ‘coxas’ não respeitaram nem as meninas que foram até lá. Violência foi pouco. Tapa na cara, cassetetes e xingamentos. Quem passava tomava e ouvia: vai sua piranha”, contou Vinicius aos membros da UJS no seminário preparatório para o 17° congresso da entidade.
A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão (PCdoB), também esteve presente no evento. “Foi excelente a ideia de trazer os meninos do ‘rolezinho’ até essa atividade. Esse foi um fenômeno muito interessante. São Paulo tem uma porção de problemas, é uma cidade dura, uma cidade difícil, mas existem coisas bem interessantes também, como esses acontecimentos sociais que se propagam com uma imensa facilidade”, disse ela.
A reunião de jovens da periferia convocados pelas redes sociais para dar um "rolé" em alguns shoppings da região metropolitana de São Paulo assustou lojistas e alguns consumidores. O movimento ganhou força depois que dois centros comerciais da capital de São Paulo conseguiram uma liminar que os autorizava a impedir a entrada de garotos suspeitos de participarem dos eventos convocados pelas redes sociais. Movimentos sociais deram apoio aos "rolezinhos" e acusaram os shoppings de praticar "apartheid"
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Minha participação no Opinião Minas (Rede Minas, TV Pública do Estado) sobre rolezinhos.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Jornal Metro repercute preparação das mobilizações durante a Copa em BH


Ao lado e abaixo, matéria do jornal Metro BH sobre as manifestações que devem ocorrer na capital mineira durante a Copa de Futebol.
De um lado, o preparo do governo.
De outro, a reação dos "meninos de junho". 
Vale a pena.


Maria Frô divulga vídeos que demonstram que manifestantes não atearam fogo no fusca


 Finalmente saiu um vídeo mostrando o que aconteceu no caso do fusca em chamas no protesto contra a Copa. Ao mostrarem uma série de fotos, uma grande quantidade de defensores do governo Dilma correram para afirmar que os manifestantes atearam fogo de propósito no carro ao mostrarem fotos dos manifestantes próximos do carro enquanto ele pegava fogo.

Na verdade os manifestantes haviam incendiado colchões na rua para bloquear a passagem dos carros. Um serralheiro com seu fusca arriscou e tentou atravessar os colchões em chamas, quando o carro ficou enganchado no colchão, incinerando o carro.

O vídeo abaixo revela que os manifestantes correram para socorrer as pessoas que estavam dentro do fusca e não atacando o carro.


Outro vídeo do Estadão mostra essa mesma cena filmada bem de perto.



Finalmente, um ministro que fala como petista

Nos últimos dias, as declarações do ministro Gilberto Carvalho soaram como música para quem sempre acreditou que o discurso petista não era blefe.
Com coragem e honestidade (é possível até aventar que as declarações teriam motivação nas disputas que antecedem a reforma ministerial, mas isto já é pura especulação), Carvalho, conhecido por sua fidelidade absoluta à Lula, começou afirmando que as manifestações de junho deixaram o governo perplexo e com sensação de ingratidão. Nada mais coerente. Se ficaram perplexos é porque - como a quase totalidade dos brasileiros, ressalte-se - não sabiam do que estava sendo armado e os sentimentos difusos que envolviam parte significativa da população. Ora, sem saber do tsunami que se formava nas profundezas do oceano, seria mais que certo que não conseguiram entender os motivos para tanta raiva contida. Afinal, o governo e o PT estão focados nos processos eleitorais. Falam mais para os adversários que para sua base social (ou a base social que pretendem defender e atender prioritariamente). Daí tantas comparações com o governo FHC, justamente porque, na comparação, estão fazendo tudo certo. O problema é que estão anos-luz das promessas petistas, desde sua fundação. E é aí que mora o perigo para os petistas.
Basta uma passada de olhos nas postagens do baixo clero petista nas redes sociais para perceber o pavor do que o inusitado das ruas pode provocar nas eleições de outubro. Algo extremamente estranho para a história petista. A argumentação "chapa branca" desses militantes virtuais (os mais exaltados, evidentemente) leva sempre ao mesmo ponto: o voto útil. Qualquer crítica pública ou apoio aos protestos de rua já são enquadrados como "fazendo o jogo da oposição". Em seguida, o mais grave, começam as ofensas pessoais e "provas", fundadas na velha teoria conspiratória, de financiamento estrangeiro e articulações fascistas que formariam a base dos que adotam o "quanto pior, melhor" como mote de vida.
Mas, aí, vem à público a velha guarda petista, fundada em valores cristãos (conheço Gilberto Carvalho desde os tempos em que contribuí com o Instituto Cajamar, na formação de dirigentes sindicais cutistas), que não fica ajoelhado a esta parca argumentação fútil e imediatista e nos brinda com estas declarações:
"Neste momento nos damos conta que as conquistas importantes que tivemos estão dadas. Foram importantes, mas absolutamente insuficientes. Tivemos um processo de inclusão social inegável e devemos nos orgulhar disso. Mas temos que reconhecer que foi absolutamente insuficiente. A corrida veloz para o consumo não foi acompanhada de um grande debate em torno de outros valores".
Não poderia ser mais correto politicamente.
Obviamente que os petistas exagerados e com baixo compromisso público devem ter se desesperado. Não há motivo algum. Ao contrário. A fala do ministro retoma o compromisso estratégico de um governo petista, algo que está quase morto em alguma gaveta.
O que Carvalho sugere é a necessidade de uma nova geração de políticas focadas não apenas na transferência de renda, mas na promoção política e de valores. No meu entender, retoma as teses gramscianas que acalentaram o PT e a igreja católica progressista nos anos em que as duas forças estiveram nas ruas, de onde brotava a energia moral. Naquele período, os ataques ferozes ultraconservadores (envolvendo até mesmo parte da esquerda tupiniquim) eram tratados com ironia e bom humor, tendo Lula à frente. Por que não agiam como os chiuauas virtuais de hoje? Porque não havia necessidade alguma. Porque a base social, ou a parcela mais organizada da base social preferencial petista, estava aliada ou se sentia representada. E, também, porque naquele momento, o PT tinha como foco a construção da hegemonia (os valores e crenças) da sociedade que levaria, como consequência, ao governo. Era a máxima gramsciana: "é possível ter poder sem ser governo".
O PT de hoje inverteu esta lógica porque tem menos crença. É mais pragmático porque é mais imediatista.
E é este o motivo da militância (que denomino de "baixo clero", termo criado por Ulysses Guimarães) virtual petista se desesperar e desfechar ataques pessoais procurando desqualificar qualquer argumento crítico à atual quadra da história petista: o foco nas eleições.
Assim, o PT se aproximou da lógica do sistema partidário brasileiro e se soma à mesmice que procurava reformar.
Há sentido, portanto, no desespero da militância petista virtual. Para o foco atual do PT. Não para o que motivou sua fundação, muito menos para a identidade que construiu à duras penas.
Em suma, os militantes virtuais podem ser tudo, menos petistas. Ao contrário do ministro Carvalho.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Meninos eu vi! (um relato sobre a manifestação em SP neste final de semana)

MENINOS EU VI ! (OU QUASE VI)
Por: Andre Borges Lopes 27/01/2014 Eu não fui à manifestação do sábado, mas a manifestação veio a mim. Eu estava defronte o Teatro Municipal acompanhando a xepa das barracas de comida dos “chefs” quando a passeata chegou acompanhada do que eu calculo que seja uns 20% do contingente da gloriosa Força Pública na Capital. Os fardados provavelmente já estavam meio putos já que as folgas de sábado tinham sido canceladas e eles estavam “escoltando” a pé a garotada desde a Avenida Paulista, até então sem maiores contratempos. Registrei no celular o Abre Alas subindo a Xavier de Toledo rumo à Biblioteca Mario de Andrade. O vídeo esta aí para quem quiser ver com seus próprios olhos a heterogênea composição sócio-etária-antropológica desse pequeno exército de Brancaleone. Arrisco a dizer que não havia mais do que uns 700 ou 800 passistas – incluindo uns gatos pingados na Velha Guarda e na Ala das Baianas. Todo o cortejo não ocupava meio quarteirão, contado da Comissão de Frente até a linha dos milicianos fardados que encerrava o desfile trajando vistosos coletes fluorescentes (vou postar umas fotos nos comentários). A grosso modo, estimo que a quantidade de meganhas superasse a militância numa vantagem de 2 para 1. Momentos antes, o Sétimo de Cavalaria Motorizada da Força Pública havia emergido de surpresa das matas da praça Dom José Gaspar com suas motocas e feito uma sonora demonstração de carga ligeira rumo aos baixios da Rua Augusta. Mas no momento da filmagem já estava tudo em relativa paz. Pelo que eu vim a saber depois, nessa altura da passarela a ala Black Bloc tinha se dispersado (ali nas imediações do Municipal), e já estava ocupada quebrando uns bancos na Sete de Abril e apanhando da “massa popular alienada” no show de black music da Praça da República. No cruzamento da Av. São Luis o clima começou a ficar mais tenso. As Waffen-SS do Choque se apresentaram com seus pesados uniformes de combate e a ala dos milicianos fluorescentes passou a exercer nervosamente o pequeno poder de impedir os transeuntes de virar a esquina rumo à Praça da República. Como até aquele momento o protesto não tinha rendido boas imagens, alguém resolveu facilitar o trabalho dos fotógrafos dos jornais e tacou fogo numa caçamba de lixo na subida da Consolação – o que causou um belo efeito visual na luz do crepúsculo. Era a deixa que a artilharia da PM esperava para começar a queima de fogos e forçar a dispersão do cortejo com a delicadeza que lhe é peculiar. Como eu não estava particularmente a fim de fornecer o meu lombo para o descarrego das tensões e frustrações mundanas dos milicianos, achei melhor ir tomar uma gelada no Lanches Estadão, que estava lotado e barulhento como de costume. Só fui chegar na Rossevelt uma hora mais tarde, quando a carcaça do pobre Fusca do Seu Itamar serralheiro ainda fumegava, depois de ter roubado a cena e garantido a capa dos jornalões do dia seguinte. A meio quarteirão dali, o samba e cerveja rolavam soltos nos botecos lotados da rua Cesário Mota, onde o povo folgazão se divertia – alheio à opera bufa que fechava as cortinas na praça dos Parlapatões.

Minha entrevista sobre rolezinhos (como o Brasil anda rápido, não?) para a Gazeta do Sul



Como os ‘hackathons’, encontros de hackers ‘do bem’, podem ajudar a gestão das cidades


Como os ‘hackathons’, encontros de hackers ‘do bem’, podem ajudar a gestão das cidades

Marcelo Godoy
Hackathon

Um avanço formidável dos grupos de cultura colaborativa com o poder público é a realização dos hackathons, uma combinação das palavras inglesas “hack” (programar excepcional) e “marathon” (maratona). Nestes encontros, que duram em média 24 horas, hackers, programadores, desenvolvedores, designers, gerentes de projetos e inventores em geral se reunem para transformar uma idéia em realidade, na velocidade da Internet.
A busca é por soluções na área pública para áreas como educacão, transporte, saúde, um exemplo promissor de como a participação da sociedade civil será parte da gestão pública em um futuro bem próximo.
A matéria prima destes encontros são os dados públicos governamentais abertos, que começaram a ficar disponíveis com a Lei Complementar 131 do Governo Lula, que determinou a abertura dos dados dos gastos públicos e foi um importante passo em direção à consolidação da transparência no Brasil.
Em 2011, o governo Dilma regulamentou com a “Lei 12527 – Lei de Acesso a Informação” um direito previsto na Constituição Federal que determina que as principais informações dos orgãos públicos devem ser postas automaticamente na Internet, que o acesso a informação pública pertence ao cidadão, sendo o governo apenas um admistrador destes dados.
A transparência nos dados públicos, a participação popular nos fóruns presenciais ou virtuais e nas redes sociais são chaves essenciais para acompanhar de perto os gestores. Este amadurecimento da cidadania participativa é um aprendizado do “espírito hacker” e das redes livres, que defendem a informação aberta e compartilhada e a busca de soluções criativas e inovadoras para uma sociedade mais cooperativa, transparente e democrática.
O “hacker do bem” além de contribuir para que a informação, cultura e o conhecimento circulem livremente, também podem combater as ações criminosas dos “hackers do mal” ou  “crackers”, que roubam senhas e criam mecanismos que causam prejuízos financeiros a pessoas físicas e jurídicas.
Nesta gestão da prefeitura de São Paulo, instalou-se pela primeira vez na controladoria-geral, uma equipe de programadores para mergulhar com total independência em busca de buracos e vazamentos no casco e nas cracas da administração pública. De cara, iluminou-se a ponta do iceberg de uma quadrilha do ISS instalada na Prefeitura, que em um conluio nefasto com as construtoras da cidade, extraia anualmente milhões de reais da arrecadação paulista, um furo que lentamente esvaziava a força da cidade,  prejudicando milhões de pessoas e enchendo de água os motores do orçamento.
Estão previstos vários hackathons neste ano e vale a pena entender o conceito para replicar o formato em todas as capitais do Brasil.
A primeira capital que precisa urgentemente de um hackathon, por motivos óbvios, é São Luis do Maranhão. Dificil vai ser contar com o apoio de algum orgão público estadual ou municipal disposto a bancar o projeto e a encrenca de mexer em um vespeiro como este. Por estas e tantas outras, o Governo Federal, inspirado no programa “Mais Médicos”  deveria criar o programa “ Mais Hackers”, um amplo pacto para aumentar a transparência pública, levando mais programadores e cientistas da computação para as chagas e os buracos negros da administração pública, especialmente onde há escassez de profissionais, liberdade, autonomia e falta de infra estrutura de acesso.
Com a convocação de mais hackers para atuar em municípios com maior vulnerabilidade social, o Governo Federal poderia investigar suspeitas de existirem fortunas que estão em paraísos fiscais, como recentemente foi apontado pelo Wikileaks e evitar que este tipo de crime e quadrilhas se perpetuem por gerações e gestões.
A iniciativa deveria expandir a infra estrutura para Wi-Fi livre e ampliar número de vagas para cientista da computação, além de incentivar o aprimoramento da formação técnica em ciência da computação no Brasil, inclusive entre jovens e adolescentes. Um bom exemplo da importância de se aprender ciência da computação desde cedo, é o programa Code.org lançado recentemente nos Estados Unidos.
“Todo mundo neste país deveria saber como programar um computador. Porque isso nos ensina como pensar”. Esta frase de Steve Jobs abre o vídeo da campanha What Most Schools Don’t Teach (veja abaixo). O objetivo da iniciativa é despertar no povo dos Estados Unidos o interesse na computação e desenvolvimento de software, algo tão ou mais importante do que aprender um outro idioma. Os americanos podem ser acusados de muitas coisas, mas sabem combater a corrupção, pelo menos no seu país.
Voltando para São Paulo, com a criação das praças com Wi-Fi, o apoio à cultura colaborativa e do software livre, a aprovação do Parque Augusta, a faixa exclusiva de ônibus, e o projeto que  pretende oferecer trabalho na Prefeitura para ajudar pessoas com dependência química, Haddad pode ser reconhecido como o primeiro prefeito a hackear sua própria cidade e um exemplo a ser acompanhado.
A transparência pública e privada é atualmente um dos melhores antídotos para combater a corrupção. Que venham mais dados abertos, mais hackers e hackatons em todo Brasil.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Revista Veja sobre os rolezinhos

A Veja desta semana publica uma interessante matéria sobre os rolezinhos e o orgulho do que denomina de "República Periferia". Algo que eu venho destacando desde o início dos rolezinhos e que revelou a cultura estamental (cada casta em seu lugar) das classes médias brasileiras e parte da nossa imprensa.
Aliás, eu dou minha opinião logo no início da matéria (reproduzo, abaixo, a página).
A questão é que o Brasil mudou e a grande maioria da nossa elite (inclusive política e sindical) não consegue ajustar seu olhar. Analisam o novo com os óculos do século passado.
Vejam o caso das manifestações de ontem. No twitter, durante a noite, uma legião "chapa branca" tentou vender a versão que se tratava de vândalos em número reduzido. Bastou notícias veiculadas nesta manhã (1.500 manifestantes em São Paulo e atos de violência que não envolveram os manifestantes, além do assassinato de um manifestante na região de Higienópolis pela PM) para esta farsa começar a ser desmontada.




sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A elite brasileira perde seu Paraíso

Vejam esta excelente matéria produzida pela revista Caras.
Aqui mora a histeria contra os rolezinhos. Entendo ser uma profunda desinformação de parte da elite econômica tupiniquim. A partir desta constatação é possível até compreender porque um rolezinho vira o fim dos tempos.

"Estamos apavoradas", dizem ex-participantes do 'Mulheres Ricas' sobre 'rolezinhos' em shoppings de luxo

A advogada Regina Manssur e a arquiteta Brunete Fraccaroli jantaram juntas em Paris, na França, e conversaram sobre a situação dos shoppings de luxo no Brasil

A advogada Regina Manssur e a arquiteta Brunete Fraccaroli, ex-participantes do reality show Mulheres Ricas, na Band, se encontraram em Paris, na França, no último final de semana e conversaram sobre os 'rolezinhos', que têm assustado os frequentadores de shoppings de luxo de São Paulo e de todo o Brasil.
Em entrevista exclusiva para a CARAS Online, Regina contou que as duas "estão apavoradas" com os passeios programados por jovens em centros de compras e que "acabou a última opção de lazer dos paulistanos e dos que visitam a cidade".
Elas se encontraram no renomado restaurante Ambroise, na Place des Voges, que tem classificação três estrelas do guia Michelin. Elas degustaram caviar lagostins, trufas e uma sobremesa de maracujá e chocolate envolta em uma casca fina. "Realmente para quem pode e nós duas podemos nos dar este luxo", disse Manssur.
Segundo a advogada, a violência no Brasil e a situação caótica nos shoppings tomou conta da conversa. "Conversamos principalmente sobre a situação triste em que se encontra nosso pobre país com relação à violência e como estamos apavoradas com este tal 'rolezinho' nos shoppings! É um absurdo! Na minha opinião, acabou a última opção de lazer dos paulistanos e dos que visitam nossa cidade", contou Manssur.
A socialite justificou sua opinião dando como exemplo as crianças e os idosos que frequentam os shoppings da cidade. "No shopping vão pais com crianças, adolescentes, casais de idade! Um tumulto com este público seria uma tragédia! E esta situação choca mais quando você está no exterior, onde existe o respeito pela lei. A situação do Brasil perante o mundo é ridícula e vergonhosa. O turista que vier para a Copa do Mundo vai ter que ser muito corajoso! Imaginem o que pode acontecer", disse.
Durante o encontro em Paris, as duas compararam a situação dos habitantes da cidade francesa e dos brasileiros. "Realmente é uma vergonha. As pessoas que têm a oportunidade de viajar podem perceber como as pessoas de fora vivem de uma forma diferente! Andam nas ruas, usam joias e nem pensam em carro blindado! É claro que existem furtos ou batedores de carteira. Mas nada que se compare com a violência que vemos todos os dias", contou Manssur.
Regina e Brunete também conversaram sobre as férias que curtem no exterior, aproveitando o inverno do continente europeu. "Esquiamos nas estações de neve mais chiques do mundo e chegamos à conclusão de que somos ricas e felizes, pois trabalhamos e podemos ter e pagar por nosso luxo. Temos muito bom gosto, pois gostamos das mesmas coisas", afirmou Manssur.
As duas aproveitaram, ainda, para cutucar as outras participantes do Mulheres Ricas, na Band, e reafirmaram o desejo de participar da terceira edição do reality. "Concordamos que a segunda edição deixou muito a desejar, pela direção muito fraca e pelo elenco idem, pois algumas 'ricas', de ricas não tinham nada! Muito menos classe! E concordamos que mulheres chiques, dentre as quais nos incluímos, o Mulheres Ricas 3 pode ser um sucesso. Sem gente debochada, pois a vida de mulher rica é luxo e não barraco", completaram.

Por que comentei tanto sobre os rolezinhos? (2)

Prometi, em outra nota, comentar outro aspecto dos rolezinhos que me chama a atenção: a relação deles com a dinâmica nas escolas públicas brasileiras.
Há inúmeros relatos de situações em sala de aula que, se lidos e ouvidos pela imprensa e classe média tradicional, evitariam a histeria discriminatória que fomos obrigados a presenciar nos últimos dias por conta da "invasão" dos meninos dos rolezinhos.
Para não ser enfadonho, destaco um excerto da famosa carta de uma professora da rede municipal de ensino de Belo Horizonte (uma das mais conceituadas do país) quando do seu retorno à escola que lecionava, após o término de seu doutorado em Letras:

Hoje, dia 19 de março de 2009, vou mais um dia para a escola, desanimada e certa de que as aulas que preparei para os alunos do 3º ciclo, 1º turno, não serão dadas. Mas busco entusiasmo não sei onde, entro para a sala de aula (sala 10, 6ª série) e inicio repetindo o que tenho falado com os alunos desde o primeiro dia de aula: coloquem o caderno, a agenda, o lápis, caneta, borracha, régua, tesoura sobre a mesa e guardem a mochila debaixo da carteira ou dependurada no encosto da cadeira (muitos se deitam, durante a aula, na mochila para dormir ou se escondem atrás dela para dar gritos ensurdecedores sem motivo algum ou para atirar bolinhas de papel enfiadas no corpo das canetas esferográficas).Essa atividade demanda mais ou menos uns 20 min, pois metade da sala não ouve, ou finge que não ouve, continua a correr pela sala, está virada para trás conversando, está subindo nas bancadas sobre as janelas e de lá pulando de cadeira em cadeira e outros tantos estão a olhar no vazio, sem nada fazer.Quando estão todos assentados, mais dez minutos para que escutem a proposta de trabalho para o dia.

Ver carta completa clicando AQUI .

Pois bem, a agitação (correria e gritaria) que tanto foi explorada pela imprensa sensacionalista (felizmente, não envolvendo toda imprensa tupiniquim) nos últimos dias já é realidade há anos nas redes públicas de ensino.
O que ocorreu nas redes públicas?
A resposta é: se tornaram realmente públicas e, portanto, brasileiras.
Eu mesmo, filho de classe média e parte da elite social e política do pequeno município paulista onde vivi até os 16 anos, estudei em escolas públicas que eram dominadas pela elite econômica e política daquela localidade. Algo que se reproduzia, até os anos 1980, por todo país. Caso do Instituto de Educação aqui em Belo Horizonte, ocupada pela elite, embora pública.
A partir dos anos 1980, mas principalmente, a partir dos anos 1990, o dado de cobertura do ensino fundamental, ou seja, o percentual de crianças brasileiras em idade escolar que efetivamente estavam nas escolas públicas, foi crescendo sem parar.
Vejamos uma primeira tabela oficial:


Aqui você percebe a maravilha da evolução das matrículas do ensino fundamental, por região do país, de 1991 até 2001.
Vamos ver, agora, mais de perto:



Veja como, a partir dos anos 1990, o dado de cobertura das séries iniciais chegou a 96%, (em 1997). Perto da saturação, o salto foi ainda maior nas áreas rurais.
Enfim, as escolas públicas se tornaram mais brasileiras a partir daí.
Paralelamente a esta situação, verificamos uma mudança na composição familiar e em sua própria dinâmica interna. A média de filhos por mulher caiu abaixo de 2, atingindo rapidamente índices europeus. O fator principal foi o ingresso massivo de mulheres no mercado de trabalho e sua ascensão na hierarquia das empresas.
Vários estudos relatam que o tempo de convívio familiar dos pais com filhos acima de 15 anos de idade reduziu-se à média de 1h30 por dia. Este é um fenômeno mundial, em especial, na porção ocidental do Planeta. Moto contínuo, o resultado imediato foi a formação de "grupos de pares", ou seja, grupos de crianças e adolescentes da mesma idade que passaram a constituir uma comunidade própria, por onde nossos jovens passaram a aprender a se vestir, falar, a construir valores coletivos. Não foi um fenômeno apenas brasileiro e muito menos definido por clivagem de classe. Um fenômeno, portanto, universal.
Esta é uma das explicações para o perfil da Geração Y, arredia a qualquer hierarquia ou autoridade.
Os pais, cada vez mais distantes, alimentam um forte sentimento de culpa, o que impulsiona, de um lado, o estímulo ao consumo desde a tenra infância, como uma espécie de compensação pela ausência. Mas há outro fator, mais pernicioso, pouco comentado: a agressividade e violência dos pais para com diretores e professores das escolas de seus filhos. A cada repreensão ou punição aos seus alunos, afluem pais enfurecidos, dispostos a recuperar a "honra" de seus filhos. Minha equipe do Instituto Cultiva vem colhendo a evolução gradativa de atos de agressão e violência em escolas públicas, cujos autores são pais de alunos.
Destaco, a seguir, a página do Retrato da Rede 2013, publicação que socializa o levantamento anual das condições de trabalho em todas escolas municipais paulistanas, sob coordenação do SINESP (sindicato dos especialistas em educação do ensino público municipal de São Paulo), a partir da consultoria do Instituto Cultiva.


Comunidade e famílias dos alunos são responsáveis por 49% dos casos de agressão que profissionais da educação das escolas municipais sofreram no último ano na rede municipal de ensino da maior capital do país.
O leitor desta nota já deve ter percebido onde quero chegar.
O que estou querendo fundamentar é a constatação que o que estamos presenciando com os rolezinhos pode ser exagero, mas não é absolutamente nada distinto do que ocorre nas escolas públicas (e grande parte das particulares, cujos casos não são publicizados) do país há mais de dez anos.
Em segundo lugar, adultos são responsáveis pelo comportamento exagerado e, mais raro, agressivo dos jovens estudantes brasileiros. São eles, os adultos, os protagonistas dos atos de agressão contra professores e diretores de escolas, criando a referência para o comportamento de seus filhos e quebra de autoridade dos educadores.
Mas algo é ainda mais grave. São os adultos que promovem ações violentas contra crianças e adolescentes e não o inverso. Aliás, este também é um fenômeno que envolve grande parte do nosso continente.
Dados oficiais dos EUA revelam que são registrados 1,5 milhão de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes naquele país, na sua própria família. Mais de 300 mil crianças e adolescentes norte-americanas sofrem abusos sexuais, sendo 4 mil tendo como autores os pais de meninas. Estima-se que a cada 20 casos de violência, somente um é notificado. Envolve famílias de todas classes sociais.
Vejamos a conclusão de uma pesquisa realizada pela Universidade Popular da Baixada, patrocinada pelo Ministério da Justiça, que analisou 2.217 casos de processos relativos à violências e maus-tratos nos dez maiores municípios do Rio de Janeiro, em 1997:

O maior número de processos, 1.221, foi encontrado no Rio; seguido de Campos, com 219; Nova Iguaçu, com 186; São Gonçalo, com 130 e Duque de Caxias, com 97. A lamentar, o fato de que, dos 2.217 processos, só 19,8% estavam finalizados com sentença. Quanto à decisão judicial em relação ao agressor, em 49% dos casos não houve sentença e, em 23,6%, não houve registro (sic). Apenas em 15,1% houve punição para o agressor, que foi desde uma simples advertência até a suspensão ou destituição do pátrio poder. Especificamente em relação ao abuso sexual, houve 257 processos, sendo 143 do município do Rio de Janeiro. Também no município do Rio, no item Decisão judicial em relação ao agressor, em 46,7% dos casos não houve sentença (sic) e em 26,8% não houve registro (sic). Só houve algum tipo de punição, também de advertência até a perda do pátrio poder, em apenas 8,9% dos casos.

Enfim, a histeria contra os rolezinhos por parte da imprensa e classes médias é absolutamente infundada, intolerante e caolha, porque não consegue perceber a mudança de comportamento de seus próprios filhos, omissão dos adultos e, em especial, o exemplo familiar de comportamento agressivo.
Efetivamente, os rolezinhos não são fenômenos inscritos na lógica criminal ou marginal. Reproduzem, em escala maior, o comportamento cotidiano dos nossos jovens brasileiros.
Por acolherem os brasileiros indistintamente, as escolas públicas são palco, há anos, deste tipo de comportamento social hiper excitado, excessivo, até. Mas nada que coloque a vida social em perigo.
Pelo contrário, é nossa omissão e nosso comportamento, enquanto adultos, que alimentam ou orientam tais comportamentos coletivos excessivos.
A histeria só alimenta ainda mais esta lógica.
Enfim, como disse uma vez um importante psicólogo brasileiro, cada vez mais os adultos somos "adultescentes". Mesmo errando, costumamos jogar a culpa no Outro.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Minha entrevista sobre os rolezinhos para a Agência de Notícias Japonesa Jiji Press

1- Qual a motivação por trás dos rolezinhos?
R: Diversão infanto-juvenil. São pré-adolescentes e adolescentes, na faixa de 11 a 17 anos de idade que se encontram há anos nos shoppings centers localizados nas periferias das capitais brasileiras. Nasceram das fanpages do Facebook cujos criadores são meninos (não há um único registro de meninas) que, na sua maioria, afirmam que desejam ser MCs. Os rolezinhos são encontros (o termo foi registrado na música "Chopis Centis", de 1995, do grupo musical Mamonas Assassinas) dos criadores desta páginas (chamados de ídolos) e seus seguidores (chamados de fãs). Um fenômeno que cruza o acesso à internet via smartphones e a explosão do consumo popular brasileiros nos últimos dez anos. Os garotos dos rolezinhos sempre frequentaram shoppings centers das periferias, compram de maneira voraz (vestuário, adornos, laptopos e smartphones de última geração), daí os rolezinhos serem agendados para acontecerem nesses lugares.

2- Um rolezinho chegou a reunir 6 mil jovens em um shopping. Uma aglomeração desse porte dentro de um centro de compras causam grande impacto e reações diversas. Esses encontros são organizados com intuito de causar bagunça, violência?
R: Não. Os rolezinhos são pura diversão infantil. Já ocorriam há pelo menos cinco anos. Alguns pesquisadores afirmam que desde o início do Século XXI já eram registrados esses encontros. Ocorre que há dois anos as fãs que se encontravam com seus ídolos nos shoppings de periferia começaram a presenteá-los. Ao postarem fotos em suas fanpages, rodeados de fãs e de presentes, estas páginas e os encontros marcados nas fanpages tiveram uma explosão. Qualquer adolescente da periferia se viu na possibilidade de se tornar uma celebridade, do dia para noite, o que alimentou a disputa por novos seguidores/fãs. Os ídolos passaram a ter ainda mais cuidados com seus fãs, respondendo suas mensagens, postando fotos dos encontros, vídeos, formando amplas comunidades de superexposição. Fazer parte de uma comunidade virtual como esta passou a ser motivo de prestígio, principalmente se a fanpage tiver mais de 2 mil seguidores. Em dois anos, estas fanpages se multiplicaram, assim como número de seguidores. Há registros de fanpages com 50 mil, 60 mil ou 80 mil seguidores. Uma febre entre jovens das periferias. Os rolezinhos, que envolviam até então 100 a 200 jovens, passaram a envolver milhares. Imagine um encontro de milhares de adolescentes, excitados com a superprojeção? Se comportam como nas escolas onde estudam: gritam e correm. Foi isto que assustou vendedores e consumidores mais velhos. E assustou, ainda mais, os frequentadores de shoppings centers de alto consumo que nunca foram frequentados por esses meninos e, portanto, não fazem parte da programação de rolezinhos.

3- Qual o papel das autoridades e como a polícia e os shoppings devem lidar com a questão?
R: Acolher os rolezinhos como manifestação infanto-juvenil de consumidores. Acolher e organizar. A cultura estamental do Brasil, profundamente intolerante em relação a comportamentos distintos daquele das elites, acaba por se contrapor ao espírito empresarial, de acolhimento e conquista de mais clientes. Os meninos dos rolezinhos são, de longe, os consumidores mais vorazes do país nos últimos cinco anos. Pesquisa do Data Popular divulgada nos últimos dias aponta que o potencial de consumo de jovens da classe social dos membros dos rolezinhos chega a 129 bilhões d reais, mais que as classes A e B somadas. O comportamento grupal é típico de pré-adolescentes, com muita gritaria, excitação e correria. Seria fundamental organizar esses encontros, incluindo fanpages criados pelos shoppings em seus sites. Poderiam, em pouco tempo, ampliar em muitas vezes seus cadastros de consumidores. Sugiro ainda outras ações, como organização de shows nos pátios de estacionamento, ofertas, premiações, eventos sociais e culturais. Ao invés de tratá-los como marginais sociais, deveriam orientá-los e cativá-los. Eles não estão invadindo shoppings já que sempre foram seus frequentadores.

4- Os rolezinhos podem chegar as ruas, trazendo outras demandas, como aconteceu com a onda de protestos de junho de 2013?
R: Dificilmente. São pré-adolescentes e adolescentes que nas suas fanpages afirmam odiar a política. Contudo, muitos estudos consagrados sobre movimentos sociais indicam que protestos vigorosos nascem do sentimento de injustiça. O tratamento discriminatório e exagerado que as polícias, parte da imprensa e classes médias tradicionais estão conferindo a esses meninos, muitas vezes classificando os rolezinhos como arrastões (o que, efetivamente, não são), pode gerar um profundo sentimento de injustiça. O fato é que no final da última semana, os "meninos de junho" tentaram agendar encontro com os meninos dos rolezinhos. Todas tentativas foram frustradas.

5- O senhor acredita que os rolezinhos continuarão a ocorrer?
R: Sim. Podem diminuir neste momento de maior confronto, mas estamos falando de um fenômeno típico das sociedades de consumo de massa. O Brasil viveu nos últimos dez anos o que os EUA viveram na década de 1950: a emergência de um potente mercado consumidor interno. Segundo o Instituto de Desenvolvimento do Varejo, o comércio varejista brasileiro cresceu 5,9% em 2013. E há muito o que crescer, ainda. Apenas 8% da população possuem televisão de tela plana (um dos fetiches das compras populares dos últimos dez anos) e apenas 54% possuem máquina de lavar roupa. Os meninos e meninas dos rolezinhos são filhos dos brasileiros que romperam, há dez anos, uma trajetória familiar de exclusão do consumo. O Brasil vive, ao contrário, a inclusão pelo consumo. Hoje, prestígio social é conferido pelos bens que você porta: smartphones e vestimentas importadas ou top de linha, viagens aéreas, acesso à internet, aquisição de casa própria, entre outros. As escolas públicas, desde o final dos anos 1990, acolheram esta juventude consumidora e está enfrentando, cotidianamente, este comportamento que agora está estampado nos rolezinhos. Nada de novo. Apenas um espanto das classes consumidoras tradicionais de um país desigual com o ingresso de massas populares nos espaços que antes somente eles frequentavam.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Por que comentei tanto sobre os rolezinhos? (1)


Por que comentei tanto os rolezinhos? (1)
Rudá Ricci

Chegou um momento que muitos internautas começaram a postar mensagens pedindo para mudar de assunto. Alguns citando diretamente para este que, novamente, escreve sobre o tema. Talvez não tenham sido tantos. Mas deu para notar.
A questão é que os rolezinhos tiveram dois importantes significados para mim. Vou citar um deles e, em outro momento, cito o segundo (que, adianto, trata-se da expressão de jovens que os professores de escolas públicas brasileiras já vivenciam desde os anos 1990).
Um dos significados do rolezinho é a revelação de mais uma face social deste país-mosaico.
Em pouco mais de um semestre, quatro faces escondidas nos fundões do país vieram à tona. A primeira, dos jovens universitários com algumas notas de espírito libertário. Muito marmanjo de esquerda desejava ver um novo Zé Dirceu ou um sósia do Luís Travassos. Talvez, um Wladimir Palmeira. Algo assim. Surgiram milhares, sem nome. Ninguém subindo num carro ou muro para discursar. Muitos cartazes. Os marmanjos de direita, bem, a direita é sempre meio velha, meio paranoica, meio passadista. Jovem definitivamente não combina com a direita. Existem, é verdade, jovens de direita, mas convenhamos que se trata de uma contradição em termos. Cuja síntese é sempre um velho. Alma de velho.
Em julho, a elite sindical deu sinal de vida. Era 11 de julho. . As centrais sindicais CSP-Conlutas, Força Sindical, CUT, CTB, UGT, NCST, CGTB, CSB definiram o dia como de greves, paralisações e manifestações de rua. Além dos carros de som, gente uniformizada, faixas feitas com esmero em gráficas, faltou povo e empolgação. Greve e manifestação de rua que é bom, só nos livros de história.
Balanço realizado pelos organizadores constatou que a maioria dos trabalhadores não foi para a rua, mas milhares de trabalhadores (não precisaram o número) aderiram às manifestações e ficaram em casa. Paulo Pereira da Silva, então Presidente da Força Sindical, concluiu: “por isso, até, a quantidade de pessoas que tinha na rua era menor do que o que vimos em manifestações anteriores”. O dia de manifestação programada pela elite sindical não empolgou porque há tempos as centrais sindicais se incorporaram à lógica estatal naquilo que Phillipe Schimitter denominou de neocorporativismo , ou seja, a tomada de assento da elite sindical nas arenas de decisão da agenda estatal.
Nos meses seguintes, os índices de popularidade perdidos em junho e julho foram sendo recuperados pelos governantes, em especial, pela Presidente Dilma. Pesquisa daqui e dali e logo surgiu o evidente: as classes menos abastadas, os assalariados e os que ganham bolsa família seguraram o rojão. No pior momento de desilusão dos brasileiros com o governo federal, nordeste e os que recebem bolsa família mantiveram o apoio ao lulismo.
Com efeito, na pesquisa Datafolha realizada entre 29 e 29 de novembro de 2013, a aprovação ao governo da presidente Dilma Rousseff subiu e chegou a 41%. Mas entre os beneficiários do Bolsa Família atingiu 53%. A aprovação de Dilma entre os que recebem o Bolsa Família é maior que os 47% do ex-presidente Lula nesse mesmo grupo de eleitores em fevereiro de 2006, ano em que ele foi reeleito. No início de 2010, quando Dilma Rousseff enfrentava sua primeira eleição, outra pesquisa Datafolha indicava que entre os beneficiários do Bolsa Família, 40% declaravam voto da pouco conhecida candidata lulista. A mesma pesquisa revelava que entre os beneficiários do programa habitacional federal “Minha Casa, Minha Vida”, era o candidato oposicionista, José Serra (PSDB), que saía à frente, com 35% das intenções de voto.  O impacto politico-eleitoral do Bolsa Família, como se percebe, é significativo, desde sua criação.
Contudo, o que parecia constituir uma forte tendência neoclientelista, se revelou algo mais fluido na medida em que novas pesquisas com beneficiários foram surgindo no país. A pesquisa mais completa e reveladora foi publicada no livro “Vozes do Bolsa Família”, elaborado por Walquíria Leão Rego e Alessandro Pinzani. Entre 2006 e 2011, os autores entrevistaram mais de 150 mulheres cadastradas no Bolsa Família, residentes no Vale do Jequitinhonha (MG), sertão e litoral de Alagoas, interior do Piauí e do Maranhão, periferias de São Luís e do Recife. Cada mulher foi entrevistada mais de uma vez, de modo que foi possível verificar as mudanças que experimentaram durante o período.
O estudo coloca por terra a noção simplória e linear do clientelismo, marcada pela relação alienante entre o beneficiado que é tutelado pelo seu protetor. As beneficiárias não sentem, assim como os “meninos de junho”, atração pela política oficial e pelos partidos políticos.  Segundo os autores uma maioria relevante das entrevistadas (cerca de 75%) afirmou que a bolsa é um favor do governo ou uma ação derivada do fato de o presidente Lula ter sido pobre e, portanto, conhecer melhor a situação dos pobres do que seus predecessores. Pouco mais da metade das entrevistadas afirmou votar somente por obrigação, mas quase todas reconheceram que os fatos de ter votado em Lula nas últimas eleições e de ele ter sido eleito à Presidência, mudaram sua vida. Contudo, não fica claro se e em que medida estabelecem uma ligação direta entre o fato de participar das eleições e o de o governo Lula (neste caso) ter ganhado e adotado políticas públicas de combate à pobreza que as afetam diretamente.
A pesquisa revela que não há interesse dos beneficiários pela política, nem processo eleitoral. Tampouco há alinhamento ou fidelização eleitoral dos beneficiários com partidos ou lideranças políticas. Votam por ser uma obrigação. E, em diversas passagens, os autores destacam que os beneficiários consideram ser justo receberem o benefício em virtude dos políticos profissionais se apropriarem do dinheiro público, muito acima do que seria seu direito, o que lhes dá direito para receber a bolsa. O recurso recebido é identificado pela quase totalidade dos entrevistados como insuficiente, o que as obriga a trabalhar em jornadas muito extensas.
Enfim, o voto governista se dá pela comparação com os programas e ações de outros partidos políticos e pelo passado do ex-Presidente Lula.
O pragmatismo dos beneficiários se revelou por completo quando do boato que se espalhou no país (em especial, no nordeste), em maio de 2013, sobre o possível cancelamento do benefício. O boato deu origem a 920 mil saques das contas dos beneficiários, em três dias, revelando a percepção deste público a respeito da segurança e sustentabilidade deste programa. Uma reação silenciosa daqueles que não haviam saíram às ruas no mês seguinte.
Finalmente, do nada, surgiu a quarta face até então escondida nas periferias das capitais do país: os meninos do rolezinho. Trata-se de um fenômeno oriundo da inclusão pelo consumo. Há dez anos, quando a geração anterior (parte parente direto desses pré-adolescente e adolescentes) rompeu a barreira da história familiar de indigência, eles tinham entre dois e sete anos de idade. Viveram sob o signo do consumo como validação do prestígio social. Ao fenômeno da inclusão pelo consumo se cruzou outro, o da transformação das redes sociais em principal fonte de comunicação entre jovens. Algo que já havia sido verificado nas manifestações de junho, mas que revelou seu potencial muito mais significativo e profundo nesses dias de rolezinhos.
Se a média de amigos virtuais no mundo é de 195 pessoas por usuário, no Brasil este número atinge 365. Segundo o IBOPE, mais de 80% dos internautas tem perfis em redes sociais. A participação de jovens em redes sociais é igual em todas as classes sociais. Segundo a Associação Brasileira de Internet, o acesso às redes pelas camadas menos abastadas se dá através de smartphones, o que gerou, em especial no nordeste do país, o fechamento de muitas lan house. Em nosso país, há 2,5 celulares por pessoa.
O Facebook, desde 2012, é a principal rede social utilizada pelos usuários brasileiros. Segundo a Experian Hitwise . No final daquele ano, esta rede atingiu um índice de 54,99% de participação no Brasil, frente os 18,24% registrados em 2011. O YouTube ficou em segundo lugar na categoria, com 17,92%, seguido pelo Orkut, com 12,42%, que registrou uma queda de 33,69 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2011. Mas como o mundo virtual é extremamente volátil e dinâmico, já no final de 2013 registrava-se o aumento significativo do uso do Twitter e WathsApp no mundo, superando o índice de crescimento do Facebook .
Os rolezinhos são encontros de proprietários de fanpage instaladas no Facebook, com seus seguidores. Pré-adolescentes e adolescentes do sexo masculino na faixa de 11 a 17 anos, moradores e frequentadores de shoppings centers da periferia dos grandes centros urbanos, chegam a administrar fanpages com 1.000, 5.000, 20.000 até 60.000 seguidores. São páginas de relacionamento e entretenimento de jovens que trocam pequenos vídeos, gracejos, fotos, anúncios de eventos sociais, formando uma comunidade ativa. Poucos anos atrás, ídolos e fãs (como se autodenominam donos de fanpages e seguidores) começaram a agendar encontros para se conhecerem. O local escolhido foram suas referências de consumo e diversão: os shoppings centers das regiões periféricas das cidades. Os encontros foram fartamente disseminados nas redes sociais que envolvem este perfil de jovem. Nos encontros nos shoppings (inicialmente denominados de “encontros de fãs”) seguidores presenteavam seus “ídolos” o que estimulou o surgimento de uma rede ainda maior de fanpages e seguidores. As comunidades virtuais multiplicaram seus membros o que aumentou o número de adolescentes que continuaram se reunindo em shoppings, confirmando a presença nos convites virtuais que se seguiram. Enfim, um fenômeno infanto-juvenil envolto na lógica do consumo como prestígio social que se propagou pelas redes sociais.
A reação das classes médias, administradores de shoppings e polícia militar foi discriminatória. Houve tentativa de criminalização, disseminando a falsa informação que os rolezinhos eram arrastões, promovendo furtos e agressões. Não houve registro e tanto a PM, quanto administradores dos shoppings onde ocorreu o fenômeno negaram qualquer situação anormal, além da correria e gritaria dos jovens que se reuniam em alvoroço.
A intolerância revelou mais uma faceta da transformação social porque passa o país. Talvez, o fenômeno dos rolezinhos tenha sido dos mais reveladores e agudos sinais das mudanças sociais e seus impactos sobre nossa propalada cultura da tolerância e convivência entre diferentes.

Enfim, parte do Brasil escondido mostrou a sua cara. Já é o suficiente para falarmos bastante deste assunto. 

domingo, 19 de janeiro de 2014

Os rolezinhos do domingo


Agora vamos ver o que nossos paranoicos de plantão dirão. Em São Paulo, rolezinho no Shopping Plaza Sul. Nenhum conflito ou anormalidade. No Rio de Janeiro, protesto em frente ao Shopping Leblon (que fechou as portas em nome da paranoia). Música funk e churrasquinho sem qualquer incidente, violência, furto ou algo que o valha. Na foto, o rolezinho de hoje em SP (registrado pela Folha). O Moinhos Shopping, em Porto Alegre, tentou barrar a entrada de adolescentes que agendaram um rolezinho pelas redes sociais e recebeu como despacho da juíza que só estariam proibidas atividades que interferissem nas atividades do shopping. Militantes da União da Juventude Socialista (em número reduzidíssimo) cantaram músicas de funk pelas dependências do estabelecimento comercial e chegaram a entrar em lojas. Em uma loja de vestidos, tiraram peças do mostruário e deixaram os responsáveis apreensivos. "Não vou levar porque é muito caro", disse, em tom de brincadeira, um participante do movimento. Em um estande da Ferrari, os manifestantes provaram óculos de sol. Mais tarde, foram à praça de alimentação tomar sorvete e deixaram o shopping em seguida.
Em Belo Horizonte, ninguém apareceu no Shopping Pátio Savassi. Aliás, somente jornalistas, Juizado da Infância e Adolescência e algumas viaturas da PM. No Minas Shopping e Itaú Power Shopping, também nada. 
Conflito mesmo, só na Ucrânia, neste domingo ensolarado.

Matéria do Globo sobre rolezinhos, comigo e Wagner Iglecias

‘Um desejo inconsciente de se integrar’

  • Analistas veem o fenômeno dos rolezinhos como um desejo de afirmação social dos jovens da periferia; repressão só incentivará movimento



Tensão. PMs detêm jovens que participavam de rolezinho no shopping Interlagos, em São Paulo, semana passada.
Foto: Joel Silva/Folhapress/22-12-2013

Tensão. PMs detêm jovens que participavam de rolezinho no shopping Interlagos, em São Paulo, semana passada. Joel Silva/Folhapress/22-12-2013
Menos motivação política e mais um fenômeno fruto do consumismo e da falta de oportunidades nas periferias das grandes cidades. A análise é de estudiosos da área da sociologia, educação e ciência política ouvidos pelo GLOBO para tentar explicar as motivações dos rolezinhos em shopping centers que ganharam repercussão nacional e internacional na última semana.
Apesar do clima de contestação social que tomou o país em 2013, o rolezinho teria poucas semelhanças com o movimento que tomou as ruas pela redução das tarifas do transporte público. Seria mais um movimento de afirmação social, embora de forma inconsciente, para a maioria desses jovens. É o que pensa o sociólogo e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Tadeu Iglecias.
— Para uma minoria, pode haver a intenção de fazer os rolezinhos para afrontar e contestar. Mas acredito que a motivação da grande maioria é a de, inconscientemente, se integrar. Quando estão ali, eles pertencem ao mundo que tanto desejam e que está longe do cenário de exclusão que vivem nas regiões mais pobres — afirmou Iglecias.
— Nos parece que eles querem ser reconhecidos como pertencentes à ordem social. Mas é importante dizer que esse fenômeno é muito novo e, por isso, o que temos são impressões, e não certezas — completou o cientista político da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni.
Na avaliação do sociólogo e educador Rudá Ricci, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os rolezinhos são um fenômeno que cruza o aumento da utilização das redes sociais pelos jovens da periferia, por meio de smartphones, com a inclusão pelo consumo das classes mais pobres nos últimos dez anos.
Segundo ele, os rolezinhos já acontecem em várias capitais do país há cerca de cinco anos, mas ganharam uma dimensão maior nos últimos dois, com a adesão maior de garotas ao fenômeno social e a maior disputa entre os garotos para promover os eventos sociais:
— Não é nenhum evento politizado, eles odeiam política, está no Facebook deles. Pode ter uma leve acidez social, mas ela é quase marginal entre esses jovens — avaliou.
Todos eles destacam, entretanto, que há que se distinguir os tradicionais rolezinhos de outras ações que podem estar pegando carona no fenômeno para fazer saques e vandalismo. Na opinião dos especialistas, os rolezinhos são fruto de um contexto econômico bem específico: pleno emprego, ampliação do crédito e consumismo nas classes mais baixas.
— Quem é pobre e mora nas periferias sempre foi excluído. Há um tempo, eles não tinham a chance de sair de lá. Hoje em dia essa nova geração vive na era do pleno emprego e do consumismo e não se contenta em ficar no gueto. O garoto da periferia vê a mesma propaganda na TV que o jovem de um bairro rico. O consumismo está presente na vida dele e, com isso, o desejo de fazer parte daquela sociedade que o exclui diariamente — disse Iglecias.
Por outro lado, a infraestrutura nesses locais não acompanhou o aumento de renda. Há falta de áreas de lazer, centros culturais e esportivos. É nesse contexto, explica Iglecias, que os shopping centers se inserem como principal espaço público.
— O shopping é a praça dos dias de hoje. É a referência de espaço para convívio e diversão que se tem nas periferias — afirmou.
Para Rudá Ricci, o shopping center é um local que concentra o que eles desejam consumir e se tornou um centro de convivência próximo ao local onde eles moram:
— Eles gastam meio salário mínimo por mês, em média, só em roupas e tecnologia da comunicação. Então, o shopping center é o local que concentra todas as lojas que eles gostam de comprar. É o espaço deles, não tem invasão nenhuma. Por isso que eles não vão aos shoppings centers próximos aos locais onde moram — avaliou.
Marcus Ianoni diz que os rolezinhos tornaram evidente um “apartheid difuso" que persiste no Brasil.
— Existe um apartheid difuso. Esse fenômeno leva novamente à reflexão sobre a necessidade de políticas públicas para as periferias.
O futuro dos rolezinhos é uma incógnita, dizem os especialistas. Mas eles acreditam que a repressão policial e episódios de discriminação podem ser um estimulante para esses jovens e ainda levar outros movimentos a se juntarem à causa.
— O discurso do direito de ir e vir e de circular livremente pela cidade tem muita afinidade com o que defende, por exemplo, o Movimento Passe Livre — avaliou Iglecias.