Eugênio Moraes/Hoje em Dia
Rudá Ricci: "Atos violentos desmentem manual"
“O tempo inteiro há manifestações dentro das periferias das grandes cidades”, lembra Rudá

O mundo inteiro está de olho no Brasil no que diz respeito às manifestações registradas no país nos últimos meses. O que seria algo pacífico, ganhou um grau de violência e hoje ocupa as discussões. Na última quarta-feira (12), no programa “Central 98”, na rádio 98 FM, o cientista político Rudá Ricci abordou o assunto. Alguns trechos da entrevista você confere a seguir:

Pelo o que vimos das manifestações do ano passado para cá, o “Gigante” realmente despertou ou os atos perderam o foco?
Ele nunca dormiu. O tempo inteiro há manifestações dentro das periferias das grandes cidades, lutas pela questão da terra, por qualidade de vida.
Mas estão bem diferentes, maiores...
Dessa vez os jovens saíram de novo às ruas. A diferença entre os manifestantes de agora e os do século 20 é que os atuais não são organizados sob uma liderança. Cada um participa se percebe que não vai ser usado por alguém. Ao falar de jovens na multidão, fala-se de adrenalina pulsando dentro dele. Manifestação com a juventude é uma situação específica e exige muita preparação técnica da polícia.
No Brasil, as manifestações têm um poder de mudança ou só existem para mostrar que a sociedade está indignada?
Infelizmente, da forma como estão ocorrendo, elas não mudam a estrutura de poder, mas demonstram o que o país pensa. Isso ocorreu nas manifestações pelo mundo todo no século 20. Nas mais interessantes, eles mudaram a Constituição e derrubaram o governo. Dois anos depois, quem saiu voltou pela eleição. Esse tipo de organização e manifestação na rua não tem proposta política, não muda a estrutura. É como se eu estivesse reclamando e não me cobrar pela responsabilidade de mudar o que eu não quero. É como chegar até a porta e não entrar.
Pode-se dizer que há quatro perfis de manifestantes: o cidadão que vai para reivindicar algo, o jovem da periferia cansado de ser desrespeitado pela polícia, o black bloc que solta morteiro... 
Black bloc não solta morteiro. No caso do cinegrafista, o suspeito de ter atirado o rojão disse que não usa a tática. Acho muito estranho se ele fizer parte dessa ação. Mas vamos ver, pode ser que realmente seja. E quem praticou crime tem que pagar por isso.
E falam também do crime organizado infiltrado nos protestos...
Isso está mais forte no Rio de Janeiro, mas em Belo Horizonte houve alguns deles no dia 26 de junho. Aproveitam os manifestos para, armados, atacar a polícia.
Qual a diferença entre black blocs e os manifestantes?
Os dois são manifestantes. Na verdade, o primeiro não é um grupo. É um manual tipo “faça você mesmo”, leia e, se quiser, use a tática.
Você conversou nos últimos meses com vários adeptos ao black bloc. Quais as táticas deles?
No manual é informado como agir. Todos vestem roupas pretas (as cores do anarquismo) e se postam na frente dos manifestantes, não deixando a polícia avançar. A segunda ação é contra empresas que, na opinião deles, exploram trabalhadores e animais.
E por que a violência?
Eles respondem que não são violentos, não atacam pessoas. Atacam, no máximo, a fachada de uma empresa.
Mas isso não é violência?
Eles não atacam pessoas.
Por causa de prejuízos por conta das depredações, alguns empresários tiveram que demitir funcionários. Não acaba sendo uma violência contra o trabalhador? E a depredação, violência? 
O resultado disso vai afetar a vida das pessoas, mas na apostila há o princípio de não atacar vida humana. É obvio que eu acho que uso de violência contra vidro não tem sentido. Na política, o resultado foi catastrófico toda vez que houve um ato violento para mudar uma situação do país.
E os justiceiros, homens comuns agindo por conta própria contra criminosos? Casos no Rio de Janeiro e em Fortaleza...
Eles fazem de maneira pior o que o rapaz fez com o rojão que matou o cinegrafista, no Rio. É crime e os justiceiros têm que ir para a cadeia, e rápido. Quem tem poder para prender um ladrão é a polícia. Não é cada um com a sua mão.